quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Encurralado

Quando menos percebemos estamos encurralados, trabalho, deveres e obrigações. Rotina maçante martelando diariamente.

Despertador no último volume as 05:45hs, o ser semiconsciente levanta tropeçando em tudo que vê pela frente. Um banho rápido, um café forte e uma corrida rápida para não perder o ônibus. Duas horas chacoalhando pela cidade de São Paulo para enfim chegar à fábrica as 08:00hs.

Pão frio com café morno para as 08:12hs escutar a estrondosa sirene dando início ao expediente. O protetor auricular aliena o ser das gigantescas máquinas em sua volta. Com movimentos ritmados e automáticos o ser se encaixa na linha de produção com a perfeição de uma roda dentada em um relógio.

Nova sirene as 12:12hs indica a hora para alimentar a máquina, isto é, o ser, pequenos pedaços de bife em um mar de arroz e feijão. Um breve descanso para a incansável sirene anunciar as 13:12hs uma nova jornada de alienação e movimentos ritmados.

Finalmente, 17:12hs, a última sirene. Cansado e atordoado o ser toma outro banho rápido e corre para não perder o ônibus de volta. Três horas chacoalhando para enfim, as 20:50hs chegar em casa.

Um jantar rápido e uma hora de televisão terminam de alienar o ser. Finalmente capota em um sono profundo para mais um dia exatamente igual de trabalho.

Esta rotina espartana não é uma exceção e sim, uma realidade para a maioria das pessoas.

Charles Chaplin já antecipava em seu filme Tempos Modernos de 1936 o fatídico colapso do individuo em uma rotina.

Sabemos que um indivíduo “quebrado” é facilmente substituído, mas e se todos quebrarem ao mesmo tempo? Colapso do sistema? Anarquia? Revolução? Historicamente já tivemos momentos semelhantes resultando em grandes mudanças, boas ou ruins.

Não temos outra opção a não ser parar de massificar o indivíduo e começar a individualizar a massa.

O óbvio

Um dia desses tive o desprazer de escutar uma frase: é óbvio que um político roube, faz parte de seu trabalho, não há nada que podemos fazer.

Frase indigesta e preocupante. A partir do momento que a maioria começa a acreditar em algo, inevitavelmente se torna verdadeiro dificultando ainda mais mudanças.

Usar o óbvio como escudo nada mais é que uma desculpa para falta de ação. Mudar o conhecido e aceito é escalar o Himalaia sem oxigênio. Galileu o fez e quase morreu por isso.

Discursar a roubalheira dos políticos e anular o voto em uma eleição é incoerente. Posso usar vários exemplos para isso: reclamar do transito e parar em fila dupla; jogar lixo na rua e reclamar das enchentes.

Pareço pedante e chato escrevendo sobre isso, também sou “pecador” no sentido restrito desta crônica. Tenho consciência que peco constantemente por omissão.

Grandes mudanças são conseqüências de pequenas ações. Nesta semana li uma reportagem dizendo que separar o lixo reciclável em São Paulo é praticamente ineficaz.

Ótimo argumento para o óbvio, já que é ineficaz paro de perder meu tempo em separar, jogo tudo em um saco plástico e coloco na rua. Na manha seguinte tudo resolvido. O lixo some como em um passe de mágica e eu, continuarei argumentando que a logística da cidade impede uma ação em prol do meio ambiente.

Ou posso mudar. Pesquisar o porquê desta ineficiência e, além de continuar a separar o lixo, procurar uma melhor forma do mesmo chegar ao seu destino.

Recentemente um amigo meu resolveu comprar uma briga com nada menos que um velho conhecido nosso: José Sarney. A revolta foi contra um jornal de grande circulação que o mantém como colunista. Como pode um jornal desse porte publicar opiniões de uma pessoa afundada em acusações claramente antiéticas?

Esbravejou contra o periódico em uma carta assinada descrevendo seu repúdio com a situação.

Acredito que esta ação isolada não terá real impacto, mas, e se a moda pega?

Imaginem políticos com medo, temendo centenas de ações isoladas pressionando seu modo de agir e, com isso, executando um trabalho mais correto.

Temos que parar de sonhar com um mundo assim e começar a agir.