domingo, 19 de julho de 2009

Os "Entas"

Um dia desses reencontrei um velho amigo da época de faculdade. Entre lembranças e risadas subitamente para, me encara sério e desabava - iremos fazer 40 anos, isso não te preocupa?

Na hora dei uma risada e não respondi nada. Quarenta anos, grande coisa!!!

Para os céticos quarenta anos são a metade da vida, para os crentes em reencarnação é apenas um minúsculo lapso de tempo.

Refletido o fato percebi que quanto mais velhos ficamos, menos importa a idade. Quando tinha meus vinte e poucos todos meus amigos eram da mesma faixa etária com uma variação máxima de dois anos. Hoje, tenho amigos que divido os mesmos interesses que variam dos 25 até os 60.

Nunca esqueço uma propaganda televisiva onde mostrava em um elevador uma jovem olhando insistentemente para um homem, ele envaidecido sorria. Retribuindo o sorriso ela diz – “Tio, aperta o 21”. Finalmente o homem se dá conta de sua idade.... Não sei se pela minha cara de poucos amigos ou pelo meu porte de lenhador em plena atividade nunca tive o desprazer desta experiência.

Quando fiz trinta anos achava que estava ficando velho e perdendo a juventude, com quarenta, mais jovem do que nunca e acumulando milhagem. Não tenho o mesmo fôlego ou a mesma insanidade inconseqüente de vinte anos atrás. Sou mais tático, como um sniper planejando por horas o tiro, mas com uma certeza muito maior do acerto.

A percepção muda de forma assustadora com o tempo.

Com vinte anos sonhava com um Maverick oito cilindros, amarelo, queimando pneu nas arrancadas e soltando fumaça pela cidade.

Com trinta anos olhava para meus vinte e constatava quão estúpido eu era, Maverick? Onde eu estava com a cabeça? Bom mesmo era um Mustang vermelho conversível.

Com quarenta, olho para meus trinta e percebo, carro conversível? Nesta cidade? Beberräo? Com a gasolina ao preço que está? Bom mesmo é meu carro novo, na garantia, super econômico, com catalizador e todos os opcionais inclusos.

Será que com cinqüenta anos pedalando uma bicicleta ecologicamente correta acharei esta crônica uma estupidez?

Independente desta alusão automobilística o importante é perceber que evoluímos, somos melhores que ontem e piores que amanha.

By Marcelo Passerini

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Coleções ou Manias?

Sábado, acordo cedo. Muita coisa acumulada da semana a fazer. Um banho rápido combinado com um café forte me põe em pé. Ligo o computador e antes de começar escolho calmamente qual o relógio que irei usar neste dia nublado. Opto por um Tissot Automático Incabloc 1974. Com ele devidamente alinhado no pulso começo o trabalho.

Dotado de apenas um pulso esquerdo não consigo usar mais de um relógio de cada vez. Apesar disso tenho relógios suficientes para abastecer um micro ônibus cheio de gente.

Coleções ou manias? O que leva um ser humano a acumular itens de uma mesma categoria? Racionalmente o ato de colecionar é um desperdício enorme de tempo e dinheiro.

Tenho certeza que todos já colecionaram algum item em alguma fase da vida. Quando crianças, pedrinhas do pátio da escola, antes da adolescência, álbuns de figurinha, tampinhas de garrafa, quando jovens, entrada de show de rock, flâmulas de time de futebol, latas de cerveja de vários tipos. Já não tão jovem, canetas antigas, relógios e, para alguns, carros.

A graça em colecionar não é apenas em acumular itens em ações solitárias, o que vale é a interação com pessoas que compartilham a mesma paixão e interesse no assunto. Trocar algo que já não interessa por algo mais raro ou inusitado. Voltamos a ser crianças nos pátios de colégios trocando figurinhas.

Não importa quantos itens já compõe uma coleção, ela nunca será completa. No momento estou atrás de um Tauchmeister alemão, quem sabe mês que vem consiga finalmente um Tissot PR200 e, um dia, um IWC Aquatimer.

Para os olhos de um leigo, nós somos eternos insatisfeitos, nunca plenamente contentes com uma aquisição, sempre discutindo onde conseguir novas peças. Esta é a graça de uma coleção. Uma novela sem fim sempre sem saber as cenas dos próximos capítulos.

O que leva um ser humano racional a manias como estas? Qual a justificativa para isto? Não sou psiquiatra para analisar o cérebro humano de um colecionador, mas, acredito que qualquer coleção é o tempero na salada que é nossas vidas.

O tempo melhora, de nublado a ensolarado. Levanto calmamente, tiro o Tissot do pulso e resolvo por um Aeromatic 1912 Aviador. Me parece mais apropriado para o resto do dia.

By Marcelo Passerini