Todo o ser humano que se preze acha lindo quando vê uma criança brincando. Também acho. Até aquela noite.
Fui convidado para um jantar no apartamento de um casal amigo com um filho pequeno. Chegando cumprimentei a todos e observei aquela criança tímida sentada toda arrumada no canto do sofá. Extremamente educada para sua idade sorria fazendo gestos de adeus com a mão. Todos se aproximavam dela perguntando seu nome, quantos aninhos tinha. Elogiavam aos pais pelo filho lindo que tinham.
Os aperitivos são servidos enquanto o pequeno ser brinca calmamente entre os convidados.
O problema começa quando o teor etílico começa a afetar a cabeça dos convivas. Querem agora fazer parte das brincadeiras do moleque. Levantam-no, sacodem, pegam seus brinquedos, correm atrás dele e este maravilhado acha que chegou ao céu. Nunca em sua curta existência teve tanta atenção em tão pouco tempo.
O jantar é servido. Sentado no cadeirão perto da mesa ele brinca com a comida. Meio agitado começa a jogar pedaços de pizza para os lados. A mãe inutilmente tenta acalmá-lo. Ela explica com um ar meio sem graça que ele normalmente não é assim. Muita gente, ele não esta acostumado. Todos sorriem, nem se importam, acham lindo como aquela criança espalha comida pelo chão da sala.
Terminado o jantar fomos para um café. A essa altura o moleque está a mil por hora. Tinha achado a bola que a mãe, convenientemente havia escondido. Transformando a sala em seu Maracanã particular chutava a pelota para todos os lados e vez ou outra acertava minha perna. Todos os convidados participavam gritando e incentivando a pelada improvisada.
A mãe arriada entre as almofadas do sofá definitivamente tinha desistido. Olha impotente quando uma taça cheia de vinho tinto se quebra espalhando o liquido pelo seu tapete novo.
O ponto alto da noite foi a sobremesa. Sem que ninguém percebesse o garoto atolou as duas mãos no bolo e saiu correndo espalhando chocolate por todos os móveis. Em desespero a mãe persegue aquele rastro marrom segurando um pano de prato em uma inútil tentativa de estabelecer alguma ordem naquele caos.
Como um pequeno general recém empossado no cargo ele agora controla um exercito de brinquedos e pessoas espalhados pela sala. Tinha tomado o poder.
A noite vai chegando ao fim. As pessoas se despedindo, agradecendo. O pequeno infante assiste tudo pulando alucinadamente no sofá branco com os sapatos sujos de chocolate. Olhando aquilo me lembro do filme o Médico e o Monstro. Naquela noite vi um ser delicado, tranqüilo se transformando em um pequeno tornado destruindo tudo que estava em seu caminho.
Agradeço aos anfitriões e digo que tudo estava ótimo, poderíamos repetir aquilo mais vezes. A mãe me olhou com um misto de desespero e ódio. Só ela saberia o que a esperava pela frente. Como fazer uma criança que mais parecia um trem desgovernado dormir e ainda no outro dia ter que refazer a casa semi destruída.
No elevador olho para minha esposa. Ela sorriu e entendeu. Um filme seria o máximo que aconteceria naquela noite. Estava meio traumatizado para atividades noturnas mais ousadas.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
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