segunda-feira, 17 de maio de 2010

Objetivos

A vida é feita de objetivos. Essa frase parece titulo de livro de auto-ajuda. Mas no meu caso é assim que funciona.

Querendo melhorar minha forma física e sem nenhum incentivo pessoal para isso resolvi usar minha experiência de planejamento adquirida do mundo corporativo. Tracei um plano estratégico com um objetivo final: correr uma maratona. Mais especificamente a São Silvestre. Com meu “plano de negócios” formatado e devidamente planilhado fui à luta.

Doze meses se passaram.

Estava sentado no chão da academia. Olhava minhas anotações diárias de treino e meus gráficos de desempenho. Analisando minha evolução posso dizer com certeza que atingi um terço dessa meta. Isto é, no estado físico atual que me encontro e fosse correr agora a São Silvestre, no exato momento que completasse cinco quilômetros, cairia duro no chão. Somente a ambulância do Incor para me remover dali. O resto teria que fazer de táxi, e mesmo assim fazendo as curvas devagar para não ficar tonto. Os números da minha planilha não mentem, ainda não é a hora.

Não há nada mais tedioso do que correr em uma esteira. O treino nunca muda: uma parede branca na frente, o barulho ritmado e constante do motor, o calor sufocante de uma sala fechada. Para acompanhar esse banquete indigesto sessões doloridas de alongamento e exercícios localizados com pesos. Realmente é para masoquista nenhum botar defeito.

Com um metro e noventa, pesando noventa quilos e com um problema crônico no joelho estou muito mais parecido com um halterofilista do que um maratonista. Não tenho o biótipo de um etíope magro que só ocupa meio espaço. Até agora não sei onde estava com a cabeça quando decidi correr.

Mas o objetivo continua. Quinze quilômetros de dor e sofrimento e um final caótico na linha de chegada na avenida Paulista. Sem essa meta eu já teria desistido. Seria como ir ao dentista, usar a broca sem anestesia e sair dali sem consertar nada.

Subi outro dia a avenida Brigadeiro Faria Lima de carro. Fiquei imaginando um atleta de fim de semana chegando naquele trecho. É o final da São Silvestre, uma longa e constante subida. É inconcebível que alguém, véspera de ano novo, depois de correr mais de dez quilômetros, exausto, olhe aquela imensidão de ladeira e ainda sinta algum tipo de satisfação. Mas a teimosia do ser humano é algo incrível. Mesmo com essa perspectiva dantesca vou todos os dias para academia, ligo a esteira elétrica e saio correndo.

A ultima maratona assisti pela televisão. Depois de um tempo enorme que o primeiro completou a prova apareceu um ancião com todos os anos de idade cruzando a linha de chegada. Foi aplaudido em pé. Ótimo. Peguei minha planilha de treino e escrevi uma observação. “Quanto mais velho melhor”. Se eu tivesse vinte anos seria quase uma obrigação completar uma prova dessas. Com quase quarenta será uma bela conquista. Imagina então com sessenta? Ergueriam uma estatua em meu nome.

Pode ser que nunca participe mas preciso acreditar que sim. Talvez esse ano, ou o próximo. Quem sabe? Tenho que me agarrar em algo para motivar meu lado atleta.

Depois desse tempo todo percebi que estava melhor fisicamente. Aliás, essa era a idéia original antes mesmo de pensar em participar daquela prova. Chamem-me de obsessivo. Mas comigo funcionou. O fim justificou os meios, mesmo que ainda não tenha chegado lá.

Finalmente me dei conta, não poderei tão cedo completar meu objetivo. E depois, faria o que? Pararia os treinos? Decidi que daquele ponto em diante a São Silvestre seria o meu Everest. O lugar mais alto que poderei atingir. Minha mola propulsora para continuar os treinos. Não há necessidade para pressa.

A São Silvestre sempre estará lá. Este ano será a 81ª edição. Gosto de números redondos. Participar da 90ª começa me parecer uma boa idéia.

Um comentário:

Rita disse...

Incrível, jamais imaginei vc sendo um desportista!