sexta-feira, 24 de abril de 2009

Um dia desses

“Precisamos marcar algo um dia desses”.

“Vamos marcar um almoço ou quem sabe um café?”

Quantas vezes você ouve e usa essa frase? E quantas vezes realmente esse almoço ou aquele café aconteceu? Provavelmente poucas. Essa é a melhor forma de encerrar uma conversa com alguém que realmente você não tem a menor vontade de reencontrar.

Quantas vezes não encontramos casualmente alguém que temos que obrigatoriamente parar e conversar. Perguntar da família, do trabalho, o que tem feito de bom. Neste caso a melhor forma de encerrar é olhar rapidamente para o relógio, olhar para o interlocutor e dizer que está atrasado mas irá ligar para marcar um almoço um dia desses. Nunca mais irá vê-lo. A não ser que acidentalmente o encontre de novo. A única desculpa neste caso é dizer que está atolado de trabalho almoçando na mesa do escritório mas irá ligar um dia desses para marcar um café.

Ótimo. Tudo resolvido. Mas reze para não encontrá-lo de novo pois aí terá que usar a desculpa suprema, aquele ás na manga que só tiramos em último caso. Mate alguém da família. Não pode ser alguém próximo pois ele poderá checar, mas uma tia distante, que morava fora do estado onde você teve que ir e ainda foi responsável por todo o tramite do velório. Depois dessa mude você de estado. É a única forma de evitar o quarto encontro e salvar sua reputação.

No caso de encontros em ambientes sociais como festas, aniversários, inaugurações de alguma bobagem onde a etiqueta manda você comparecer desenvolvi uma técnica de despedida infalível. A uma distância de aproximadamente três metros do grupo de pessoas dê um sorriso tímido de lábios cerrados, descreva um semicírculo ascendente com seu braço direito mantendo a palma da mão aberta direcionada para o grupo e diga um sonoro: “Tchau, nos vemos na próxima.” Perfeito, foi educado, despediu-se de todos e não deu nenhuma abertura para convites ou perguntas indesejáveis. O máximo que podem te acusar é de ser tímido.

Rudezas à parte, somos obrigados a criar atalhos para a etiqueta existente hoje. Imagina se formos totalmente sinceros? Que não estamos nem um pouco afim de convidar ninguém para almoçar, ou para tomar um café? Que apenas queríamos seguir adiante sem ter que trocar amenidades e no máximo um aceno de cabeça para informar que reconhecemos o próximo. Seriamos execrados da sociedade e taxados de estúpidos.

Comentei sobre este assunto com um amigo e ele achou muito grosseiro da minha parte. Respondi que poderíamos discutir isso mais profundamente, quem sabe um dia desses, tomando um café.........


By Marcelo Passerini
marcelo@passerini.com.br

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