domingo, 24 de janeiro de 2010

2012

Acordei e me dei conta. Estava no ano de 2012. Não tinha a menor idéia de como tinha chegado ali. A última recordação era de algum dia de novembro de 2007. Passaram-se cinco anos.

Levanto, tomo um banho e me olho no espelho. Sou eu mesmo, não pareço mais velho, o cabelo ainda está no lugar com os mesmos fios brancos em cada lado. Nenhuma ruga nova.

Olho para os lados. Não reconheço a casa. Os quadros na parede são meus. Devo morar ali. Está um pouco arrumada demais. Será que não moro sozinho? Abro as gavetas e encontro um monte de roupas femininas. Opa! Casei de novo e nem estou sabendo?

Com a cabeça rodando vou para a cozinha. Abro a geladeira e encontro o pó de café guardado junto com uma pilha de enlatados. Só eu mesmo para refrigerar produtos em conserva. Realmente moro ali. Faço um café forte e adiciono um Marlboro. Ótimo! Cafeína com nicotina me fazem pensar melhor.

Com o cérebro clareando procuro um jornal pela casa. Preciso saber o que está acontecendo.

Tropeço em um carrinho de plástico no caminho. Opa! Vestígio de criança. Será que além de casar já tenho filhos?

Acho um jornal no canto da sala. A foto do Lula envelhecido estampa a manchete. O que será que esse barbudo aprontou de novo. E a seleção? Será que ganhou a copa?

Ligo a televisão. A programação parece ser a mesma. Começa um jornal. As notícias parecem repetidas. Enchentes, fraudes, assaltos, transito, um monte de baboseiras sobre produtos de beleza. Bom, pelo menos algumas coisas não mudaram.

No canto da sala vejo um telefone com uma secretária eletrônica junto. No visor marcava um recado. Aperto o botão. Uma voz feminina sai pelo auto falante dizendo para não me preocupar que irá se atrasar mas ligará mais tarde. Não reconheço. Aquilo só piorou a situação. Se eu casei, com quem foi? Preciso de mais um café.

Abro a janela e olho para a rua, não reconheço nada. Nem ao menos sei se estou na mesma cidade. O dia está claro, céu limpo, pouco movimento. Está com cara de fim de semana.

A campainha toca, abro a porta. É um rapaz entregando uma caixa de comida de alguma mercearia. Agradeço e pergunto quem tinha mandado aquilo. Ele ri e diz: você, não lembra?

Garoto idiota! Se eu lembrasse nem tinha perguntado. Dentro da caixa só encontro produtos biodinâmicos, leite desnatado, grãos e chá. Cadê os hambúrgueres congelados, doces e bolachas? Legal, com certeza devo ter comido aquilo e meu cérebro entrou em curto e deletou cinco anos de minha vida.

Sento na sala. Preciso tomar uma decisão do que fazer primeiro. Se ligar para alguém e perguntar o que tem acontecido nos últimos anos vão me internar com certeza.

Começo por vasculhar a casa em busca de algum tipo de informação. Fotos, vídeos, qualquer coisa serve. Acho um caderno velho de capa verde com anotações minhas. Milhares de anotações. Coisas do dia-a-dia. Começo a ler: cortar a grama do jardim, comprar leite, arrumar o portão da garagem, cortar o cabelo, chamar a assistência técnica para consertar a maquina de lavar, pagar a conta de luz, levar o cachorro no veterinário. Opa! Tenho um cachorro! Então cadê o animal? Será que levei no veterinário e o incompetente o matou?

A campainha toca de novo. Vou atender e dessa vez é um velho alto de terno preto com a pele meio cinzenta. Ele me olha e diz com uma voz muito grave:

- Está na hora.

Como assim? Espere um pouco! Ainda nem sei como vim parar ali e nem o que estou fazendo neste lugar. Explico que ainda preciso entender toda a situação. Mostro a caixa da mercearia com os produtos naturais na tentativa de ganhar mais tempo. Digo que me alimento bem, me exercito, não bebo, levo uma vida saudável, fumo um cigarro de vez em quando e só. Ele não mexe um músculo da face.

Começo a entrar em desespero.

Acordo suado. Olho no relógio. Estou em 2007. Aliviado levanto e tomo um copo de água. Que pedreira de pesadelo! No caminho para a sala encontro um caderno novo de capa verde e uma caneta, esquento um café e começo a anotar o que irei fazer durante o dia.

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