domingo, 24 de janeiro de 2010

Pseudo Masoquista

Já não sou mais um adolescente, na altura dos meus 40 anos freqüento uma sessão quase diária de treinos físicos. Volta e meia acordo todo dolorido. Para que? O argumento imbatível é que fazemos isso pela nossa saúde. Cada vez mais percebo que isso é uma grande bobagem.

Treinar algum tipo de esporte estático individual onde não atingimos nenhum objetivo real como fazer um gol, ganhar um set, terminar uma maratona? É algo próximo de um masoquismo legalizado.

Um dia questionado por que treino constantemente respondi: Para ficar em forma. Meu interlocutor continuou: ficar em forma para que? Ué, para aquentar treinar todos os dias, respondi. Estúpida conclusão? Nada mais faço do que um looping insano impulsionado por dor e endorfina.

Mas continuamos treinando e nos orgulhando disto. Quantas vezes escutamos que estamos quebrados, cansados, mas levantamos a cabeça e voltamos para academia.

Nossa vida já é uma constante seqüência de esforço e vitória. Treino físico diário nada mais do que um curta-metragem disto. Hoje treino, amanha dói, depois de amanha prazer. Treino, dor e prazer. Uma repetição de padrão que estamos culturalmente acostumados. Sem esforço dor e sacrifício nada se conquista.

Há um tempo vi uma maratona na televisão Os atletas mais aplaudidos foram os que chegaram arrebentados, mancando, com uma expressão de dor constante. O publico vibrou. O primeiro lugar chegou sorrindo e dando adeus, foi timidamente aplaudido como se fizesse nada mais que sua obrigação.

Onde foi que aprendemos que tudo tem que ser sofrido e dolorido? Porque o sabor da vitória só será sentido se anteriormente tivermos algum tipo de privação de prazer.

Já notaram anúncios televisivos de aparelhos de ginástica que prometem resultados fantásticos com o mínimo de esforço? Cinco minutos por dia, dizem. O primeiro pensamento que me vem à cabeça é: será que funcionam? Arrebento-me diariamente nos treinos e não pareço nada com o modelo da propaganda esticando um maldito elástico.

Não tem como, o conceito esforço dor e conquista está inserido na nossa seqüência de DNA. Como se ao nascermos chorando o médico diria: vá acostumando meu amigo, a vida aqui fora assim. Nunca consideramos o sucesso de alguém sem seu passado sofrido. Não seria justo. Será mesmo? Porque não mudarmos esse padrão? Por que não transformar a caminhada tão prazerosa quanto à chegada?

Filosofias a parte, preciso ir, meu braço melhorou o suficiente para voltar a treinar.

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