domingo, 24 de janeiro de 2010

Primeira vez.....

O interior da aeronave vibra sem parar, finalmente o Electra começa a taxiar e manobra no fim da pista pronto para decolar. Os quatro motores turboélice Allison aceleram gerando 3.750 cavalo-força em cada. Colo no banco. Com o cinto de segurança afivelado e meu rosto colado na janelinha vejo aquele monstro de aço ganhar velocidade. Finalmente decola. Eu, garoto, vejo o aeroporto de Congonhas diminuir de tamanho. Emoção indescritível da ponte aérea Rio – São Paulo, é a primeira vez que ando de avião, nunca esqueci aquele momento.

Vinte e cinco anos depois, ainda lembro da poderosa injeção de adrenalina de experimentar algo pela primeira vez na vida. Não esqueço também quando li meu nome no jornal entre os aprovados no vestibular, meu primeiro estágio no segundo ano de faculdade, meu primeiro carro, a primeira namorada.

Emoções e lembranças poderosas que ficam gravadas em nossas memórias. A vida seria muito monótona sem estes momentos isolados. Há dias em que nem lembramos o que comemos no café da manhã, mas aquele gol que fizemos no final do campeonato no torneio do ginásio, inesquecível.

Com mais milhagem acumulada, estas passagens tendem a ser mais raras e espaçadas. Ficamos mais anestesiados pelo acúmulo de tempo. Mas precisamos delas.

Era uma manhã chuvosa de um dia perdido, dezenas de coisas para fazer e eu em um mau humor crescente. Tomei um café rápido, peguei minha pasta cheia de papéis e a chave do carro, a caminho da garagem um gari sorrindo e assoviando limpava a rua, virou-se para mim e disse um alegre bom dia! Nem minha cara de limão passado removeu o sorriso no rosto do sujeito. Resolvi parar e indaguei o rapaz a razão de toda aquela alegria. Ele disse: recebi um aumento, vou poder finalmente parcelar minha primeira televisão.

Disse um atrapalhado parabéns, desejei-lhe sorte e entrei no carro. Finalmente me dei conta, para o rapaz o Electra estava acelerando com seus milhares de cavalos de potência. Estava experimentando o resultado do novo, a adrenalina corria solta.

Verifiquei na agenda o que precisava fazer, peguei minha caneta e adicionei no final uma tarefa:

- Experimentar algo novo, correr algum risco, fazer algo diferente, ninguém merece terminar o dia com o “boa noite” do William Bonner.

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