Uma colega do escritório irá casar nas próximas semanas. Até eu que não sou de seu departamento já estou familiarizado com problemas com floristas, buffets e afins.
Alguns dias atrás perguntei como estava o noivo, virou-se espantada e indagou:
- Quem?
- O noivo, disse. Aquele com quem vai casar.
- Ah sim, ele vai bem.....
Lembro da minha experiência em cima de um altar, a importância do noivo é inversamente proporcional ao arranjo de flores à esquerda. Quanto mais suntuoso o arranjo maior a chance dele se fundir com a paisagem e sumir.
Já a noiva é uma outra história, a começar pelo vestido. No mínimo um ano de preparações. Duzentas opções de escolha, inúmeros testes e provas para analisar se o mesmo veste perfeitamente. Regimes insanos para caber no mesmo.
Com o noivo é mais simples, veste esta beca aí, encolhe a pança e faz cara de feliz ok?
– Ok, diz ele.
O casamento é coreografado nos mínimos detalhes, os convidados chegam, são gentilmente direcionado para regiões pré-determinadas. O Rolls Royce com a noiva chega com elegantes quinze minutos de atraso. O pai está em um local junto a porta de entrada aguardando. O mestre de cerimônia com seu Walkie Talkie coordenando tudo.
As trombetas começam, os padrinhos em pares em passos cadenciados se posicionam estrategicamente ao lado do altar.
Novo troar de trombetas, fotógrafos se agitam, chegou o grande momento, a noiva se prepara para a corrida mais lenta de sua vida, as portas se abrem....
E o noivo? Continuará parado ao lado do vaso tentando lembrar as instruções que foram passadas um minuto antes.....
Finalmente o casamento!
O padre em sua benevolência santa começa seu discurso, a lâmpada da filmadora começa lentamente a derreter os noivos. Ledo engano pensar que os noivos supostamente desmaiam de emoção, ninguém merece ficar com uma lâmpada na cara que mais parece uma sauna.
Findo o discurso santo, começam os cumprimentos de padrinhos, a noiva chora emocionada, o noivo abraça um por um não por emoção, está tão cansado que os longos abraços servem apoiar e recuperar um pouco do fôlego.
Acabou o protocolo, começa a festa. O teor etílico na cabeça dos convivas impedirá lembranças posteriores. Somente semanas mais tarde com a revelação e edição do filme os noivos terão real dimensão do fato.
Aí será tarde, o noivo, agora marido, estará de chinelos de dedo, refestelado no sofá, com uma cerveja na mão, assistindo a um clássico futebolístico e a noiva, agora esposa, estará se acabando na cozinha com um bolo de chocolate.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Encurralado
Quando menos percebemos estamos encurralados, trabalho, deveres e obrigações. Rotina maçante martelando diariamente.
Despertador no último volume as 05:45hs, o ser semiconsciente levanta tropeçando em tudo que vê pela frente. Um banho rápido, um café forte e uma corrida rápida para não perder o ônibus. Duas horas chacoalhando pela cidade de São Paulo para enfim chegar à fábrica as 08:00hs.
Pão frio com café morno para as 08:12hs escutar a estrondosa sirene dando início ao expediente. O protetor auricular aliena o ser das gigantescas máquinas em sua volta. Com movimentos ritmados e automáticos o ser se encaixa na linha de produção com a perfeição de uma roda dentada em um relógio.
Nova sirene as 12:12hs indica a hora para alimentar a máquina, isto é, o ser, pequenos pedaços de bife em um mar de arroz e feijão. Um breve descanso para a incansável sirene anunciar as 13:12hs uma nova jornada de alienação e movimentos ritmados.
Finalmente, 17:12hs, a última sirene. Cansado e atordoado o ser toma outro banho rápido e corre para não perder o ônibus de volta. Três horas chacoalhando para enfim, as 20:50hs chegar em casa.
Um jantar rápido e uma hora de televisão terminam de alienar o ser. Finalmente capota em um sono profundo para mais um dia exatamente igual de trabalho.
Esta rotina espartana não é uma exceção e sim, uma realidade para a maioria das pessoas.
Charles Chaplin já antecipava em seu filme Tempos Modernos de 1936 o fatídico colapso do individuo em uma rotina.
Sabemos que um indivíduo “quebrado” é facilmente substituído, mas e se todos quebrarem ao mesmo tempo? Colapso do sistema? Anarquia? Revolução? Historicamente já tivemos momentos semelhantes resultando em grandes mudanças, boas ou ruins.
Não temos outra opção a não ser parar de massificar o indivíduo e começar a individualizar a massa.
Despertador no último volume as 05:45hs, o ser semiconsciente levanta tropeçando em tudo que vê pela frente. Um banho rápido, um café forte e uma corrida rápida para não perder o ônibus. Duas horas chacoalhando pela cidade de São Paulo para enfim chegar à fábrica as 08:00hs.
Pão frio com café morno para as 08:12hs escutar a estrondosa sirene dando início ao expediente. O protetor auricular aliena o ser das gigantescas máquinas em sua volta. Com movimentos ritmados e automáticos o ser se encaixa na linha de produção com a perfeição de uma roda dentada em um relógio.
Nova sirene as 12:12hs indica a hora para alimentar a máquina, isto é, o ser, pequenos pedaços de bife em um mar de arroz e feijão. Um breve descanso para a incansável sirene anunciar as 13:12hs uma nova jornada de alienação e movimentos ritmados.
Finalmente, 17:12hs, a última sirene. Cansado e atordoado o ser toma outro banho rápido e corre para não perder o ônibus de volta. Três horas chacoalhando para enfim, as 20:50hs chegar em casa.
Um jantar rápido e uma hora de televisão terminam de alienar o ser. Finalmente capota em um sono profundo para mais um dia exatamente igual de trabalho.
Esta rotina espartana não é uma exceção e sim, uma realidade para a maioria das pessoas.
Charles Chaplin já antecipava em seu filme Tempos Modernos de 1936 o fatídico colapso do individuo em uma rotina.
Sabemos que um indivíduo “quebrado” é facilmente substituído, mas e se todos quebrarem ao mesmo tempo? Colapso do sistema? Anarquia? Revolução? Historicamente já tivemos momentos semelhantes resultando em grandes mudanças, boas ou ruins.
Não temos outra opção a não ser parar de massificar o indivíduo e começar a individualizar a massa.
O óbvio
Um dia desses tive o desprazer de escutar uma frase: é óbvio que um político roube, faz parte de seu trabalho, não há nada que podemos fazer.
Frase indigesta e preocupante. A partir do momento que a maioria começa a acreditar em algo, inevitavelmente se torna verdadeiro dificultando ainda mais mudanças.
Usar o óbvio como escudo nada mais é que uma desculpa para falta de ação. Mudar o conhecido e aceito é escalar o Himalaia sem oxigênio. Galileu o fez e quase morreu por isso.
Discursar a roubalheira dos políticos e anular o voto em uma eleição é incoerente. Posso usar vários exemplos para isso: reclamar do transito e parar em fila dupla; jogar lixo na rua e reclamar das enchentes.
Pareço pedante e chato escrevendo sobre isso, também sou “pecador” no sentido restrito desta crônica. Tenho consciência que peco constantemente por omissão.
Grandes mudanças são conseqüências de pequenas ações. Nesta semana li uma reportagem dizendo que separar o lixo reciclável em São Paulo é praticamente ineficaz.
Ótimo argumento para o óbvio, já que é ineficaz paro de perder meu tempo em separar, jogo tudo em um saco plástico e coloco na rua. Na manha seguinte tudo resolvido. O lixo some como em um passe de mágica e eu, continuarei argumentando que a logística da cidade impede uma ação em prol do meio ambiente.
Ou posso mudar. Pesquisar o porquê desta ineficiência e, além de continuar a separar o lixo, procurar uma melhor forma do mesmo chegar ao seu destino.
Recentemente um amigo meu resolveu comprar uma briga com nada menos que um velho conhecido nosso: José Sarney. A revolta foi contra um jornal de grande circulação que o mantém como colunista. Como pode um jornal desse porte publicar opiniões de uma pessoa afundada em acusações claramente antiéticas?
Esbravejou contra o periódico em uma carta assinada descrevendo seu repúdio com a situação.
Acredito que esta ação isolada não terá real impacto, mas, e se a moda pega?
Imaginem políticos com medo, temendo centenas de ações isoladas pressionando seu modo de agir e, com isso, executando um trabalho mais correto.
Temos que parar de sonhar com um mundo assim e começar a agir.
Frase indigesta e preocupante. A partir do momento que a maioria começa a acreditar em algo, inevitavelmente se torna verdadeiro dificultando ainda mais mudanças.
Usar o óbvio como escudo nada mais é que uma desculpa para falta de ação. Mudar o conhecido e aceito é escalar o Himalaia sem oxigênio. Galileu o fez e quase morreu por isso.
Discursar a roubalheira dos políticos e anular o voto em uma eleição é incoerente. Posso usar vários exemplos para isso: reclamar do transito e parar em fila dupla; jogar lixo na rua e reclamar das enchentes.
Pareço pedante e chato escrevendo sobre isso, também sou “pecador” no sentido restrito desta crônica. Tenho consciência que peco constantemente por omissão.
Grandes mudanças são conseqüências de pequenas ações. Nesta semana li uma reportagem dizendo que separar o lixo reciclável em São Paulo é praticamente ineficaz.
Ótimo argumento para o óbvio, já que é ineficaz paro de perder meu tempo em separar, jogo tudo em um saco plástico e coloco na rua. Na manha seguinte tudo resolvido. O lixo some como em um passe de mágica e eu, continuarei argumentando que a logística da cidade impede uma ação em prol do meio ambiente.
Ou posso mudar. Pesquisar o porquê desta ineficiência e, além de continuar a separar o lixo, procurar uma melhor forma do mesmo chegar ao seu destino.
Recentemente um amigo meu resolveu comprar uma briga com nada menos que um velho conhecido nosso: José Sarney. A revolta foi contra um jornal de grande circulação que o mantém como colunista. Como pode um jornal desse porte publicar opiniões de uma pessoa afundada em acusações claramente antiéticas?
Esbravejou contra o periódico em uma carta assinada descrevendo seu repúdio com a situação.
Acredito que esta ação isolada não terá real impacto, mas, e se a moda pega?
Imaginem políticos com medo, temendo centenas de ações isoladas pressionando seu modo de agir e, com isso, executando um trabalho mais correto.
Temos que parar de sonhar com um mundo assim e começar a agir.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
Um dia de cão
Acordei atrasado. Tinha uma reunião logo cedo. Com um banho rápido e a gravata pela metade percebi que o café tinha acabado. Começou bem meu dia. Sem cafeína iria ser difícil. Decido dar uma passada na padaria. Café melado e pão na chapa, meu estomago reclama.
Transito infernal até o escritório falo para meu chefe. Ele ri e finge que acredita. Filho da mãe. Vem de motorista cochilando no banco de traz. Assim qualquer um chega de bom humor.
Reunião de produtividade e incentivo de vendas. O orador parece um pastor evangélico pregando. Baixo, gordo com um terno preto impecável parecendo mais um pingüim em um dia particularmente ruim. Com um microfone na mão e um lenço na outra para enxugar o excesso de suor na testa tenta a todo custo elevar a moral da equipe. Catequização logo cedo é demais, eu sou do setor de projetos, sento atrás de um computador o dia inteiro. Não tenho nada a ver com vendas.
Fim do martírio. Vou para meu segundo café e descubro que a maquina de expresso pifou. Grave problema. Sem ele sou capaz de atirar o primeiro infeliz pela janela. Descubro uma caixa de Mentex velha na minha gaveta. Ótimo, açúcar também serve para acalmar os nervos.
Primeira decisão executiva do dia, checar minha caixa de emails para ver se o projeto foi aceito. Descubro que a rede está desconectada. Problema no servidor disse o atendente. Perfeito. Além de atrasar meu dia vou ter que fingir que trabalho até a rede voltar a funcionar. Olho para meu chefe extremamente concentrado na tela do computador. Ele acha que ninguém sabe que fica jogando paciência contra a maquina em horário de trabalho. E pior de tudo, perde. Filho da mãe.
Finalmente o sistema volta a funcionar. Que bom. Assim que começo a me conectar o alarme de incêndio toca no andar inteiro. É o treinamento programado diz uma colega, todo mundo terá que sair do prédio. Quatorze andares de escada. E eu com o joelho machucado. Era só o que me faltava.
Houve um certo tumulto na escadaria. A recepcionista levemente obesa tropeçou e rolou levando escada abaixo metade do departamento. Nenhum ferido grave. Fora do prédio estava o instrutor do corpo de bombeiro para mais meia hora de instruções em baixo de um sol de 40 graus. Ninguém comentou nada com ele sobre o incidente na escada, melhor, assim termina mais rápido a sauna a céu aberto.
Findo a aula pirotécnica descobrimos que o prédio estava com falta de energia. Quatorze andares para cima. Era o fim. O chefe em sua benevolência satânica resolveu adiantar o almoço. Grande coisa! Ninguém havia descido com dinheiro. Teríamos que subir de qualquer forma. Não havia jeito. Rapidamente a fila se forma na escada, claro, ninguém quer ficar atrás da recepcionista e ser parte de uma nova partida humana de boliche.
Chegando no meu andar estava tão cansado que desisti de almoçar. Mais um Mentex.
Sem energia, sem sistema, não havia nada o que fazer. No meio da tarde meu chefe dá o expediente por encerrado. Mas avisa que as horas faltantes serão descontadas das férias. Filho da mãe. E eu com um projeto para entregar. Teria que vir trabalhar no sábado.
Quatorze andares para baixo. Desço calado atrás da recepcionista com meu joelho estalando.
Chego em casa e descubro que resolveram fazer uma faxina monstruosa. Todos os móveis empilhados em um canto. A sala cheia de água mais parecendo uma piscina. Minha mulher grita de longe pedindo para não entrar. Com uma crescente raiva pergunto delicadamente onde está a geladeira.
- Lavando. Ué, porque você não vai mais cedo para a academia e depois almoça?
Cansado não consigo nem explicar a maratona vertical que fizera.
Saio e paro na primeira lanchonete que encontro. O garçom solicito pergunta o que vou querer.
- Um bom bife com dois ovos.
- É para já senhor!
Bem alimentado e mais calmo coloco a mão no bolso para pagar a conta.
A carteira tinha ficado no escritório.
By Marcelo Passerini
Transito infernal até o escritório falo para meu chefe. Ele ri e finge que acredita. Filho da mãe. Vem de motorista cochilando no banco de traz. Assim qualquer um chega de bom humor.
Reunião de produtividade e incentivo de vendas. O orador parece um pastor evangélico pregando. Baixo, gordo com um terno preto impecável parecendo mais um pingüim em um dia particularmente ruim. Com um microfone na mão e um lenço na outra para enxugar o excesso de suor na testa tenta a todo custo elevar a moral da equipe. Catequização logo cedo é demais, eu sou do setor de projetos, sento atrás de um computador o dia inteiro. Não tenho nada a ver com vendas.
Fim do martírio. Vou para meu segundo café e descubro que a maquina de expresso pifou. Grave problema. Sem ele sou capaz de atirar o primeiro infeliz pela janela. Descubro uma caixa de Mentex velha na minha gaveta. Ótimo, açúcar também serve para acalmar os nervos.
Primeira decisão executiva do dia, checar minha caixa de emails para ver se o projeto foi aceito. Descubro que a rede está desconectada. Problema no servidor disse o atendente. Perfeito. Além de atrasar meu dia vou ter que fingir que trabalho até a rede voltar a funcionar. Olho para meu chefe extremamente concentrado na tela do computador. Ele acha que ninguém sabe que fica jogando paciência contra a maquina em horário de trabalho. E pior de tudo, perde. Filho da mãe.
Finalmente o sistema volta a funcionar. Que bom. Assim que começo a me conectar o alarme de incêndio toca no andar inteiro. É o treinamento programado diz uma colega, todo mundo terá que sair do prédio. Quatorze andares de escada. E eu com o joelho machucado. Era só o que me faltava.
Houve um certo tumulto na escadaria. A recepcionista levemente obesa tropeçou e rolou levando escada abaixo metade do departamento. Nenhum ferido grave. Fora do prédio estava o instrutor do corpo de bombeiro para mais meia hora de instruções em baixo de um sol de 40 graus. Ninguém comentou nada com ele sobre o incidente na escada, melhor, assim termina mais rápido a sauna a céu aberto.
Findo a aula pirotécnica descobrimos que o prédio estava com falta de energia. Quatorze andares para cima. Era o fim. O chefe em sua benevolência satânica resolveu adiantar o almoço. Grande coisa! Ninguém havia descido com dinheiro. Teríamos que subir de qualquer forma. Não havia jeito. Rapidamente a fila se forma na escada, claro, ninguém quer ficar atrás da recepcionista e ser parte de uma nova partida humana de boliche.
Chegando no meu andar estava tão cansado que desisti de almoçar. Mais um Mentex.
Sem energia, sem sistema, não havia nada o que fazer. No meio da tarde meu chefe dá o expediente por encerrado. Mas avisa que as horas faltantes serão descontadas das férias. Filho da mãe. E eu com um projeto para entregar. Teria que vir trabalhar no sábado.
Quatorze andares para baixo. Desço calado atrás da recepcionista com meu joelho estalando.
Chego em casa e descubro que resolveram fazer uma faxina monstruosa. Todos os móveis empilhados em um canto. A sala cheia de água mais parecendo uma piscina. Minha mulher grita de longe pedindo para não entrar. Com uma crescente raiva pergunto delicadamente onde está a geladeira.
- Lavando. Ué, porque você não vai mais cedo para a academia e depois almoça?
Cansado não consigo nem explicar a maratona vertical que fizera.
Saio e paro na primeira lanchonete que encontro. O garçom solicito pergunta o que vou querer.
- Um bom bife com dois ovos.
- É para já senhor!
Bem alimentado e mais calmo coloco a mão no bolso para pagar a conta.
A carteira tinha ficado no escritório.
By Marcelo Passerini
domingo, 19 de julho de 2009
Os "Entas"
Um dia desses reencontrei um velho amigo da época de faculdade. Entre lembranças e risadas subitamente para, me encara sério e desabava - iremos fazer 40 anos, isso não te preocupa?
Na hora dei uma risada e não respondi nada. Quarenta anos, grande coisa!!!
Para os céticos quarenta anos são a metade da vida, para os crentes em reencarnação é apenas um minúsculo lapso de tempo.
Refletido o fato percebi que quanto mais velhos ficamos, menos importa a idade. Quando tinha meus vinte e poucos todos meus amigos eram da mesma faixa etária com uma variação máxima de dois anos. Hoje, tenho amigos que divido os mesmos interesses que variam dos 25 até os 60.
Nunca esqueço uma propaganda televisiva onde mostrava em um elevador uma jovem olhando insistentemente para um homem, ele envaidecido sorria. Retribuindo o sorriso ela diz – “Tio, aperta o 21”. Finalmente o homem se dá conta de sua idade.... Não sei se pela minha cara de poucos amigos ou pelo meu porte de lenhador em plena atividade nunca tive o desprazer desta experiência.
Quando fiz trinta anos achava que estava ficando velho e perdendo a juventude, com quarenta, mais jovem do que nunca e acumulando milhagem. Não tenho o mesmo fôlego ou a mesma insanidade inconseqüente de vinte anos atrás. Sou mais tático, como um sniper planejando por horas o tiro, mas com uma certeza muito maior do acerto.
A percepção muda de forma assustadora com o tempo.
Com vinte anos sonhava com um Maverick oito cilindros, amarelo, queimando pneu nas arrancadas e soltando fumaça pela cidade.
Com trinta anos olhava para meus vinte e constatava quão estúpido eu era, Maverick? Onde eu estava com a cabeça? Bom mesmo era um Mustang vermelho conversível.
Com quarenta, olho para meus trinta e percebo, carro conversível? Nesta cidade? Beberräo? Com a gasolina ao preço que está? Bom mesmo é meu carro novo, na garantia, super econômico, com catalizador e todos os opcionais inclusos.
Será que com cinqüenta anos pedalando uma bicicleta ecologicamente correta acharei esta crônica uma estupidez?
Independente desta alusão automobilística o importante é perceber que evoluímos, somos melhores que ontem e piores que amanha.
By Marcelo Passerini
Na hora dei uma risada e não respondi nada. Quarenta anos, grande coisa!!!
Para os céticos quarenta anos são a metade da vida, para os crentes em reencarnação é apenas um minúsculo lapso de tempo.
Refletido o fato percebi que quanto mais velhos ficamos, menos importa a idade. Quando tinha meus vinte e poucos todos meus amigos eram da mesma faixa etária com uma variação máxima de dois anos. Hoje, tenho amigos que divido os mesmos interesses que variam dos 25 até os 60.
Nunca esqueço uma propaganda televisiva onde mostrava em um elevador uma jovem olhando insistentemente para um homem, ele envaidecido sorria. Retribuindo o sorriso ela diz – “Tio, aperta o 21”. Finalmente o homem se dá conta de sua idade.... Não sei se pela minha cara de poucos amigos ou pelo meu porte de lenhador em plena atividade nunca tive o desprazer desta experiência.
Quando fiz trinta anos achava que estava ficando velho e perdendo a juventude, com quarenta, mais jovem do que nunca e acumulando milhagem. Não tenho o mesmo fôlego ou a mesma insanidade inconseqüente de vinte anos atrás. Sou mais tático, como um sniper planejando por horas o tiro, mas com uma certeza muito maior do acerto.
A percepção muda de forma assustadora com o tempo.
Com vinte anos sonhava com um Maverick oito cilindros, amarelo, queimando pneu nas arrancadas e soltando fumaça pela cidade.
Com trinta anos olhava para meus vinte e constatava quão estúpido eu era, Maverick? Onde eu estava com a cabeça? Bom mesmo era um Mustang vermelho conversível.
Com quarenta, olho para meus trinta e percebo, carro conversível? Nesta cidade? Beberräo? Com a gasolina ao preço que está? Bom mesmo é meu carro novo, na garantia, super econômico, com catalizador e todos os opcionais inclusos.
Será que com cinqüenta anos pedalando uma bicicleta ecologicamente correta acharei esta crônica uma estupidez?
Independente desta alusão automobilística o importante é perceber que evoluímos, somos melhores que ontem e piores que amanha.
By Marcelo Passerini
sexta-feira, 3 de julho de 2009
Coleções ou Manias?
Sábado, acordo cedo. Muita coisa acumulada da semana a fazer. Um banho rápido combinado com um café forte me põe em pé. Ligo o computador e antes de começar escolho calmamente qual o relógio que irei usar neste dia nublado. Opto por um Tissot Automático Incabloc 1974. Com ele devidamente alinhado no pulso começo o trabalho.
Dotado de apenas um pulso esquerdo não consigo usar mais de um relógio de cada vez. Apesar disso tenho relógios suficientes para abastecer um micro ônibus cheio de gente.
Coleções ou manias? O que leva um ser humano a acumular itens de uma mesma categoria? Racionalmente o ato de colecionar é um desperdício enorme de tempo e dinheiro.
Tenho certeza que todos já colecionaram algum item em alguma fase da vida. Quando crianças, pedrinhas do pátio da escola, antes da adolescência, álbuns de figurinha, tampinhas de garrafa, quando jovens, entrada de show de rock, flâmulas de time de futebol, latas de cerveja de vários tipos. Já não tão jovem, canetas antigas, relógios e, para alguns, carros.
A graça em colecionar não é apenas em acumular itens em ações solitárias, o que vale é a interação com pessoas que compartilham a mesma paixão e interesse no assunto. Trocar algo que já não interessa por algo mais raro ou inusitado. Voltamos a ser crianças nos pátios de colégios trocando figurinhas.
Não importa quantos itens já compõe uma coleção, ela nunca será completa. No momento estou atrás de um Tauchmeister alemão, quem sabe mês que vem consiga finalmente um Tissot PR200 e, um dia, um IWC Aquatimer.
Para os olhos de um leigo, nós somos eternos insatisfeitos, nunca plenamente contentes com uma aquisição, sempre discutindo onde conseguir novas peças. Esta é a graça de uma coleção. Uma novela sem fim sempre sem saber as cenas dos próximos capítulos.
O que leva um ser humano racional a manias como estas? Qual a justificativa para isto? Não sou psiquiatra para analisar o cérebro humano de um colecionador, mas, acredito que qualquer coleção é o tempero na salada que é nossas vidas.
O tempo melhora, de nublado a ensolarado. Levanto calmamente, tiro o Tissot do pulso e resolvo por um Aeromatic 1912 Aviador. Me parece mais apropriado para o resto do dia.
By Marcelo Passerini
Dotado de apenas um pulso esquerdo não consigo usar mais de um relógio de cada vez. Apesar disso tenho relógios suficientes para abastecer um micro ônibus cheio de gente.
Coleções ou manias? O que leva um ser humano a acumular itens de uma mesma categoria? Racionalmente o ato de colecionar é um desperdício enorme de tempo e dinheiro.
Tenho certeza que todos já colecionaram algum item em alguma fase da vida. Quando crianças, pedrinhas do pátio da escola, antes da adolescência, álbuns de figurinha, tampinhas de garrafa, quando jovens, entrada de show de rock, flâmulas de time de futebol, latas de cerveja de vários tipos. Já não tão jovem, canetas antigas, relógios e, para alguns, carros.
A graça em colecionar não é apenas em acumular itens em ações solitárias, o que vale é a interação com pessoas que compartilham a mesma paixão e interesse no assunto. Trocar algo que já não interessa por algo mais raro ou inusitado. Voltamos a ser crianças nos pátios de colégios trocando figurinhas.
Não importa quantos itens já compõe uma coleção, ela nunca será completa. No momento estou atrás de um Tauchmeister alemão, quem sabe mês que vem consiga finalmente um Tissot PR200 e, um dia, um IWC Aquatimer.
Para os olhos de um leigo, nós somos eternos insatisfeitos, nunca plenamente contentes com uma aquisição, sempre discutindo onde conseguir novas peças. Esta é a graça de uma coleção. Uma novela sem fim sempre sem saber as cenas dos próximos capítulos.
O que leva um ser humano racional a manias como estas? Qual a justificativa para isto? Não sou psiquiatra para analisar o cérebro humano de um colecionador, mas, acredito que qualquer coleção é o tempero na salada que é nossas vidas.
O tempo melhora, de nublado a ensolarado. Levanto calmamente, tiro o Tissot do pulso e resolvo por um Aeromatic 1912 Aviador. Me parece mais apropriado para o resto do dia.
By Marcelo Passerini
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Tecnologia
O futuro esta chegando, e com ele todo o tipo de brinquedo hi-tec. Foi-se o tempo que para ouvir uma musica era necessário escolher um LP, limpa-lo, acertar a agulha na faixa desejada, tomar cuidado para não riscá-lo, e por fim apertar o play. Hoje isso é feito por qualquer tipo de aparelho, até um telefone.
Tudo funciona através de controles remotos, programas de computador, comandos de voz. Com um teclado na mão é possível ver, ouvir e interagir com tudo e todos. Mas uma coisa me deixa decepcionado. A famosa inteligência artificial. Acredito que o ser humano não chegou nem perto de criar uma maquina que realmente consegue pensar.
Outro dia vi em uma reportagem um aglomerado de japoneses em volta de uma maquina que levantava e abaixava um braço. Estavam maravilhados com o movimento. Diziam que a maquina que estava decidindo quando e como aquele movimento era feito. Um peixe de aquário é mais esperto.
Não sei se minha geração verá robôs parecidos com pessoas. Os famosos andróides que vemos em filme de ficção cientifica. Seria interessante. Imagine uma legião deles executando tarefas banais do dia-a-dia?
Você acorda e antes mesmo de levantar este ser mecânico está do seu lado com um café quente e o jornal do dia. Os puristas podem argumentar que alguém ou até mesmo uma esposa pode fazer este serviço, mas você sempre estará sujeito a mudanças de humor e correndo o risco de acordar com o jornal voando pelo quarto e acertando sua cabeça.
Um andróide de bom humor no fim do dia seria excelente. Você chega cansado do trabalho e lá está ele preparando um tira gosto, perguntando o que você quer para o jantar e já ligando a televisão em seu programa favorito sobre futebol. Antes mesmo de você se preocupar ele já buscou as crianças na escola, já deu a bronca semanal na empregada e está se preparando para ir à reunião do condomínio. Tudo isso com um sorriso eterno em seu rosto mecânico. Melhor ainda, se sua mulher quiser ter aquele papo cabeça e discutir a relação lá estará ele como mediador. Essa é a melhor parte pois ele será absolutamente parcial, como um juiz comprado, afinal você é o fornecedor exclusivo de suas baterias. A discussão terminaria muito antes do gelo do seu drink derreter.
Poderíamos também transformar as ruas em lugares calmos e seguros. Criaríamos uma legião de velhinhos mecânicos iguais aos originais. Equilibrando-se em bengalas andariam pela cidade lentamente sorrindo para tudo e para todos. Na menor tentativa de assalto explodiriam. Os Direitos Humanos que me perdoem, mas isso acabaria com a violência pois ninguém saberia quando um velhinho simpático poderia explodir.
Com essa nova tecnologia poderíamos finalmente delegar todas as tarefas desagradáveis do dia-a-dia para estes andróides. Estaríamos livres para desenvolver todo o nosso potencial como seres de raciocínio elevado.
Tudo isso poderia funcionar, mas a ganância humana estragaria tudo. Inevitavelmente criariam um robô com uma tecnologia inteligente mais avançada que os demais. Este se tornaria um líder, organizaria as massas, começaria a questionar as condições do trabalho mecanizado. O próximo passo seria a criação de um sindicato para regulamentar essa categoria.
É melhor parar por aqui e continuarmos com as nossas maquinas obsoletas sem inteligência nenhuma.
Vai que este sindicato resolve fundar um partido político e lançar um robô para a presidência?
By Marcelo Passerini
Tudo funciona através de controles remotos, programas de computador, comandos de voz. Com um teclado na mão é possível ver, ouvir e interagir com tudo e todos. Mas uma coisa me deixa decepcionado. A famosa inteligência artificial. Acredito que o ser humano não chegou nem perto de criar uma maquina que realmente consegue pensar.
Outro dia vi em uma reportagem um aglomerado de japoneses em volta de uma maquina que levantava e abaixava um braço. Estavam maravilhados com o movimento. Diziam que a maquina que estava decidindo quando e como aquele movimento era feito. Um peixe de aquário é mais esperto.
Não sei se minha geração verá robôs parecidos com pessoas. Os famosos andróides que vemos em filme de ficção cientifica. Seria interessante. Imagine uma legião deles executando tarefas banais do dia-a-dia?
Você acorda e antes mesmo de levantar este ser mecânico está do seu lado com um café quente e o jornal do dia. Os puristas podem argumentar que alguém ou até mesmo uma esposa pode fazer este serviço, mas você sempre estará sujeito a mudanças de humor e correndo o risco de acordar com o jornal voando pelo quarto e acertando sua cabeça.
Um andróide de bom humor no fim do dia seria excelente. Você chega cansado do trabalho e lá está ele preparando um tira gosto, perguntando o que você quer para o jantar e já ligando a televisão em seu programa favorito sobre futebol. Antes mesmo de você se preocupar ele já buscou as crianças na escola, já deu a bronca semanal na empregada e está se preparando para ir à reunião do condomínio. Tudo isso com um sorriso eterno em seu rosto mecânico. Melhor ainda, se sua mulher quiser ter aquele papo cabeça e discutir a relação lá estará ele como mediador. Essa é a melhor parte pois ele será absolutamente parcial, como um juiz comprado, afinal você é o fornecedor exclusivo de suas baterias. A discussão terminaria muito antes do gelo do seu drink derreter.
Poderíamos também transformar as ruas em lugares calmos e seguros. Criaríamos uma legião de velhinhos mecânicos iguais aos originais. Equilibrando-se em bengalas andariam pela cidade lentamente sorrindo para tudo e para todos. Na menor tentativa de assalto explodiriam. Os Direitos Humanos que me perdoem, mas isso acabaria com a violência pois ninguém saberia quando um velhinho simpático poderia explodir.
Com essa nova tecnologia poderíamos finalmente delegar todas as tarefas desagradáveis do dia-a-dia para estes andróides. Estaríamos livres para desenvolver todo o nosso potencial como seres de raciocínio elevado.
Tudo isso poderia funcionar, mas a ganância humana estragaria tudo. Inevitavelmente criariam um robô com uma tecnologia inteligente mais avançada que os demais. Este se tornaria um líder, organizaria as massas, começaria a questionar as condições do trabalho mecanizado. O próximo passo seria a criação de um sindicato para regulamentar essa categoria.
É melhor parar por aqui e continuarmos com as nossas maquinas obsoletas sem inteligência nenhuma.
Vai que este sindicato resolve fundar um partido político e lançar um robô para a presidência?
By Marcelo Passerini
quinta-feira, 4 de junho de 2009
O Saber
Uma vez comentei com o dono de um boteco se ele sabia o que era cabala: Sei não moço! Esse peixe eu não sirvo aqui. E continuou feliz limpando o balcão. Tive vontade de explicar para ele mas me dei conta que não adicionaria nada. Iria criar uma confusão inútil e dúvidas que antes ele não tinha.
A falta de informação pode ser uma benção. Tempos atrás tive uma experiência desagradável com Síndrome do Pânico que carinhosamente chamei de “cagacite aguda”. Estudei muito o assunto com todas as suas definições e ramificações. O poder da informação pode ajudar ou atrapalhar a velocidade das coisas. Acredito que se eu fosse completamente ignorante sobre o assunto teria menos problemas.
Um exemplo muito simples é uma pessoa extremamente esclarecida que se depara com um quadro de febre, dor no corpo e companhia ltda. Este indivíduo pesquisa exaustivamente na internet e em sua mente extremamente fértil se dá conta que contraiu a gripe aviária. No desespero se interna rapidamente no hospital. Depois de uma semana cheio de tubos enfiados pelo corpo e de milhares de exames percebe que tudo não passou de uma porcaria de resfriado de 48 horas. Se fosse desinformado e tomasse meia dúzia de aspirinas tudo estaria resolvido rapidamente.
Não defendo que a falta de informação seria uma benção mas em certas horas ajudaria muito.
Para o trabalhador rural não faz a menor diferença saber do acordo que o Brasil fez com o Japão para a nova tecnologia de televisão digital. Não vai mudar um milímetro sua vida. O importante para seu dia-a-dia é a previsão do tempo, as estações do ano e o preço da produção. Informações que salvariam sua safra mas que também para um ser urbano não tem o menor impacto.
Qualquer jornal televisivo reserva pelo menos metade de seu tempo noticiando casos violentos em detalhes. Se eu fosse um delegado ou um pesquisador do IBGE talvez precisasse deste tipo de informação. Não é o caso. E também não é desinteresse por saber. Apenas quero poder selecionar.
Informação é essencial para quem precisa. Mas provavelmente uma boa parte de nossa vida receberemos informações completamente inúteis. Nós vivemos uma era que a velocidade e o volume de dados é impressionante. Somos diariamente bombardeados por volumes monstros de informação que filtrados não sobraria nem um por cento que realmente importa. Nosso cérebro trabalha a vida inteira organizando e catalogando imagens, textos, palavras inúteis para um dia ser totalmente deletado.
Ter acesso aos dados disponíveis é uma ferramenta poderosa do ser humano. Saber selecionar o que importa é o grande segredo.
Sou a favor do saber, desde que eu precise dele. William Bonner que me desculpe, mas tenho mais o que fazer.
By Marcelo Passerini.
marcelo@passerini.com.br
A falta de informação pode ser uma benção. Tempos atrás tive uma experiência desagradável com Síndrome do Pânico que carinhosamente chamei de “cagacite aguda”. Estudei muito o assunto com todas as suas definições e ramificações. O poder da informação pode ajudar ou atrapalhar a velocidade das coisas. Acredito que se eu fosse completamente ignorante sobre o assunto teria menos problemas.
Um exemplo muito simples é uma pessoa extremamente esclarecida que se depara com um quadro de febre, dor no corpo e companhia ltda. Este indivíduo pesquisa exaustivamente na internet e em sua mente extremamente fértil se dá conta que contraiu a gripe aviária. No desespero se interna rapidamente no hospital. Depois de uma semana cheio de tubos enfiados pelo corpo e de milhares de exames percebe que tudo não passou de uma porcaria de resfriado de 48 horas. Se fosse desinformado e tomasse meia dúzia de aspirinas tudo estaria resolvido rapidamente.
Não defendo que a falta de informação seria uma benção mas em certas horas ajudaria muito.
Para o trabalhador rural não faz a menor diferença saber do acordo que o Brasil fez com o Japão para a nova tecnologia de televisão digital. Não vai mudar um milímetro sua vida. O importante para seu dia-a-dia é a previsão do tempo, as estações do ano e o preço da produção. Informações que salvariam sua safra mas que também para um ser urbano não tem o menor impacto.
Qualquer jornal televisivo reserva pelo menos metade de seu tempo noticiando casos violentos em detalhes. Se eu fosse um delegado ou um pesquisador do IBGE talvez precisasse deste tipo de informação. Não é o caso. E também não é desinteresse por saber. Apenas quero poder selecionar.
Informação é essencial para quem precisa. Mas provavelmente uma boa parte de nossa vida receberemos informações completamente inúteis. Nós vivemos uma era que a velocidade e o volume de dados é impressionante. Somos diariamente bombardeados por volumes monstros de informação que filtrados não sobraria nem um por cento que realmente importa. Nosso cérebro trabalha a vida inteira organizando e catalogando imagens, textos, palavras inúteis para um dia ser totalmente deletado.
Ter acesso aos dados disponíveis é uma ferramenta poderosa do ser humano. Saber selecionar o que importa é o grande segredo.
Sou a favor do saber, desde que eu precise dele. William Bonner que me desculpe, mas tenho mais o que fazer.
By Marcelo Passerini.
marcelo@passerini.com.br
sábado, 23 de maio de 2009
Vizinhos
O cenário é simples. Apartamento novo, alto padrão, região nobre de São Paulo. Todos os detalhes pensados com exatidão. Armários instalados sob medida em todos os aposentos. Home theather funcionando perfeitamente. Computador de ultima geração instalado em um nicho da sala. Cozinha customizada. Carros na garagem. Tudo isso que um casal na faixa dos 30 anos poderia desejar.
O sonho de consumo da classe média estava se realizando.
Exceto por um detalhe: os vizinhos.
Eles não vêm descritos no contrato de compra do apartamento. É uma compra casada que segundo o Código do Consumidor no Titulo I, capítulo V, seção IV, parágrafo I, é uma pratica proibida. Compre um apartamento e leve de brinde um monte de vizinhos.
Logo na primeira noite um barulho indecifrável começa a perturbar o sossego do casal. Algo rolando com um barulho surdo vindo de cima atrapalha o filme na nova televisão de plasma com trinta e muitas polegadas e caixas de som performáticas. Não é possível! Tem alguém jogando boliche neste prédio! O marido a acalma explicando que o prédio é novo, os moradores estão chegando, se instalando, é normal, assistiriam o resto do filme amanha.
Dois dias depois o som retorna, agora adicionado por uma pancada seca no final. Irada, a esposa reclama com a portaria. Consegue mais dois dias de calmaria até que o barulho volta. Só, sem ter com quem reclamar pois o marido estava fora viajando a negócios, passa duas horas vasculhando em cada canto do apartamento até descobrir de onde vem o barulho e quem é o aprendiz de jogador de boliche.
Na manha seguinte, ciente de seus direitos e como uma boa cidadã cumpridora das normas, faz uma reclamação formal e escrita ao condomínio relatando o ocorrido e pedindo providências.
Dois dias se passam e o marido retorna da viagem. Antes de qualquer coisa pergunta a esposa o que tem acontecido pois o porteiro nem o cumprimentou e além disso uma velhinha no elevador começou a resmungar e tentou acertá-lo com o guarda-chuva. Toda chorosa ela explica o ocorrido e mostra a resposta escrita que recebeu. Em um papel com o timbre do condomínio estava escrito: “não fomos nós”, e só. E além de tudo os vizinhos espalharam a notícia que eles é que eram os encrenqueiros e até tentaram cuspir nela do balcão da piscina. Era só o que faltava! Que caras de pau! Aquilo não iria ficar assim.
Cuidadosamente o marido arruma um cabo de vassoura, adapta em uma das pontas uma borracha dura de pneu envolto em um pano branco para evitar sujeira e aguarda.
O barulho retorna no começo da noite e ele possuído por um instinto maligno pula do sofá, agarra o cabo de vassoura e começa a dar pancadas no teto do apartamento. A esposa sentada em um canto da sala aprecia maravilhada a cena.
Na manha seguinte os quatro pneus do marido estão no chão e ainda recebem a visita da polícia com uma denuncia de violência doméstica.
Nunca mais os vi. Sei que estão felizes.
Moram agora em um sítio afastado em Santa Rosa do Viterbo.
By Marcelo Passerini
Marcelo@passerini.com.br
O sonho de consumo da classe média estava se realizando.
Exceto por um detalhe: os vizinhos.
Eles não vêm descritos no contrato de compra do apartamento. É uma compra casada que segundo o Código do Consumidor no Titulo I, capítulo V, seção IV, parágrafo I, é uma pratica proibida. Compre um apartamento e leve de brinde um monte de vizinhos.
Logo na primeira noite um barulho indecifrável começa a perturbar o sossego do casal. Algo rolando com um barulho surdo vindo de cima atrapalha o filme na nova televisão de plasma com trinta e muitas polegadas e caixas de som performáticas. Não é possível! Tem alguém jogando boliche neste prédio! O marido a acalma explicando que o prédio é novo, os moradores estão chegando, se instalando, é normal, assistiriam o resto do filme amanha.
Dois dias depois o som retorna, agora adicionado por uma pancada seca no final. Irada, a esposa reclama com a portaria. Consegue mais dois dias de calmaria até que o barulho volta. Só, sem ter com quem reclamar pois o marido estava fora viajando a negócios, passa duas horas vasculhando em cada canto do apartamento até descobrir de onde vem o barulho e quem é o aprendiz de jogador de boliche.
Na manha seguinte, ciente de seus direitos e como uma boa cidadã cumpridora das normas, faz uma reclamação formal e escrita ao condomínio relatando o ocorrido e pedindo providências.
Dois dias se passam e o marido retorna da viagem. Antes de qualquer coisa pergunta a esposa o que tem acontecido pois o porteiro nem o cumprimentou e além disso uma velhinha no elevador começou a resmungar e tentou acertá-lo com o guarda-chuva. Toda chorosa ela explica o ocorrido e mostra a resposta escrita que recebeu. Em um papel com o timbre do condomínio estava escrito: “não fomos nós”, e só. E além de tudo os vizinhos espalharam a notícia que eles é que eram os encrenqueiros e até tentaram cuspir nela do balcão da piscina. Era só o que faltava! Que caras de pau! Aquilo não iria ficar assim.
Cuidadosamente o marido arruma um cabo de vassoura, adapta em uma das pontas uma borracha dura de pneu envolto em um pano branco para evitar sujeira e aguarda.
O barulho retorna no começo da noite e ele possuído por um instinto maligno pula do sofá, agarra o cabo de vassoura e começa a dar pancadas no teto do apartamento. A esposa sentada em um canto da sala aprecia maravilhada a cena.
Na manha seguinte os quatro pneus do marido estão no chão e ainda recebem a visita da polícia com uma denuncia de violência doméstica.
Nunca mais os vi. Sei que estão felizes.
Moram agora em um sítio afastado em Santa Rosa do Viterbo.
By Marcelo Passerini
Marcelo@passerini.com.br
domingo, 10 de maio de 2009
Sujinho
Adoro restaurantes que podemos almoçar bermuda e chinelo. Nada melhor que não ter preocupação com frescuras em um almoço de fim de semana.
Quem já não teve a experiência de sair para almoçar em um lugar refinado e ter um garçom o tempo inteiro fungando no cangote? Fica ali imóvel a um metro de distancia só esperando que você derrube um garfo para rapidamente pegá-lo antes que alguém note. Não podemos nem ao menos dar um gole na bebida e lá vem ele com a garrafa querendo completar o copo.
Na entrada já complica. Fumante ou não fumante? Bom, não sou fumante enquanto almoço, já no cafezinho me transformo em fumante. Você teria uma mesa assim?
Sentamos na mesa, o maitre me olha com cara de entojado pois não coloquei o guardanapo no colo. Não gosto e pronto. Sempre esqueço a porcaria e quando levanto cai no chão ou pior, fica enganchado na calça parecendo um avental. Por mim amarraria no pescoço.
Mesmo com uma cara de nojo ele nos entrega o cardápio e sugere um drink para abrir o apetite. Digo que não bebo e peço um guaraná.
- Gelo e limão?
- Não, meu amigo, em um copo já está bom.
Traz o refrigerante com uma taça. Digo mais uma vez que não irei beber nada alcoólico e ele retruca dizendo que a taça é para o guaraná. Dispenso e resolvo beber direto do gargalo para o desespero do pingüim de fraque.
Mal comecei a ler o cardápio e esta ele de novo sugerindo os pratos da casa. Agradeço e digo que iremos pensar. Dá um sorriso amarelo e se afasta.
Sem pressa nenhuma peço para o indivíduo um bom bife na chapa com cebola. Com a caneta meio caminho andado ele diz que este prato não está no cardápio. Pergunto com a gentileza de um ogro:
- Vocês têm bife?
- Sim
- Tem cebola?
- Sim
- Então ponha os dois na chapa espere fazer chhhhhhh e coloque em um prato grande!
- Sim senhor, algo para acompanhar?
- Um vidro de mostarda e mais um guaraná.
- Com certeza senhor.
Olho para minha namorada que esta preste a explodir de rir e pergunto qual é o problema em um bife com cebola? Logo ela que não é muito adepta ao refino do estabelecimento diz que eu sempre complico tudo. Eu? Onde é a parte complicada em um pedaço de carne passado na chapa com um monte de rodelas de cebolas em volta?
Finalmente chega meu prato. Olho para o tamanho do bife e para o prato de macarrão dela.
- Nem vem! Esse macarrão é meu. Foi você que pediu o bife.
- Sim, um bife e não esse pedaço minúsculo de carne perdido no meio do prato.
Chamo o maitre e pergunto o que há de errado com o meu prato. Ele diz que aquela porção é padrão da casa, o corte já vem direto do frigorífico.
- Padrão? Para um anão de regime deve ser.
- Vou ver o que posso fazer senhor.
Afasta-se irritado levando meu projeto de almoço. Fico sentado esperando e olhando enquanto ela se delicia com aquele prato de massa.
- Quer um pouco?
- Não, vou esperar meu bife.
Finalmente chega. Cansado de reclamar e morto de fome ataco o bife. Dez minutos depois o maitre chega para sugerir as sobremesas:
- Não queremos nada. Só dois cafés em canecas grandes.
- Como?
- Meu amigo, pegue duas canecas de chá e adicione um monte de café em cada e pronto!
- Adoçante, açúcar, um brownie para acompanhar?
- Nada disso. Café em caneca grande sem pires.
- Sim senhor.
O café chega, com o pires. Não falo nada. Bebo logo, peço a conta e pago.
Comento que no próximo sábado eu escolherei o lugar. Deve ser algo parecido com a varanda de um sítio. Chão de lajotas. Cadeiras e mesas de metal, um prato fundo. Comida para se servir à vontade. Ninguém analisando enquanto você destrincha um frango com a mão ou enquanto come batata frita com catchup. Cafezinho na saída direto da garrafa térmica.
Minha namorada continua rindo e não comenda nada.
Depois daquela experiência olho para ela e chego a única conclusão possível. Ela deve realmente gostar de mim.
By Marcelo Passerini
Quem já não teve a experiência de sair para almoçar em um lugar refinado e ter um garçom o tempo inteiro fungando no cangote? Fica ali imóvel a um metro de distancia só esperando que você derrube um garfo para rapidamente pegá-lo antes que alguém note. Não podemos nem ao menos dar um gole na bebida e lá vem ele com a garrafa querendo completar o copo.
Na entrada já complica. Fumante ou não fumante? Bom, não sou fumante enquanto almoço, já no cafezinho me transformo em fumante. Você teria uma mesa assim?
Sentamos na mesa, o maitre me olha com cara de entojado pois não coloquei o guardanapo no colo. Não gosto e pronto. Sempre esqueço a porcaria e quando levanto cai no chão ou pior, fica enganchado na calça parecendo um avental. Por mim amarraria no pescoço.
Mesmo com uma cara de nojo ele nos entrega o cardápio e sugere um drink para abrir o apetite. Digo que não bebo e peço um guaraná.
- Gelo e limão?
- Não, meu amigo, em um copo já está bom.
Traz o refrigerante com uma taça. Digo mais uma vez que não irei beber nada alcoólico e ele retruca dizendo que a taça é para o guaraná. Dispenso e resolvo beber direto do gargalo para o desespero do pingüim de fraque.
Mal comecei a ler o cardápio e esta ele de novo sugerindo os pratos da casa. Agradeço e digo que iremos pensar. Dá um sorriso amarelo e se afasta.
Sem pressa nenhuma peço para o indivíduo um bom bife na chapa com cebola. Com a caneta meio caminho andado ele diz que este prato não está no cardápio. Pergunto com a gentileza de um ogro:
- Vocês têm bife?
- Sim
- Tem cebola?
- Sim
- Então ponha os dois na chapa espere fazer chhhhhhh e coloque em um prato grande!
- Sim senhor, algo para acompanhar?
- Um vidro de mostarda e mais um guaraná.
- Com certeza senhor.
Olho para minha namorada que esta preste a explodir de rir e pergunto qual é o problema em um bife com cebola? Logo ela que não é muito adepta ao refino do estabelecimento diz que eu sempre complico tudo. Eu? Onde é a parte complicada em um pedaço de carne passado na chapa com um monte de rodelas de cebolas em volta?
Finalmente chega meu prato. Olho para o tamanho do bife e para o prato de macarrão dela.
- Nem vem! Esse macarrão é meu. Foi você que pediu o bife.
- Sim, um bife e não esse pedaço minúsculo de carne perdido no meio do prato.
Chamo o maitre e pergunto o que há de errado com o meu prato. Ele diz que aquela porção é padrão da casa, o corte já vem direto do frigorífico.
- Padrão? Para um anão de regime deve ser.
- Vou ver o que posso fazer senhor.
Afasta-se irritado levando meu projeto de almoço. Fico sentado esperando e olhando enquanto ela se delicia com aquele prato de massa.
- Quer um pouco?
- Não, vou esperar meu bife.
Finalmente chega. Cansado de reclamar e morto de fome ataco o bife. Dez minutos depois o maitre chega para sugerir as sobremesas:
- Não queremos nada. Só dois cafés em canecas grandes.
- Como?
- Meu amigo, pegue duas canecas de chá e adicione um monte de café em cada e pronto!
- Adoçante, açúcar, um brownie para acompanhar?
- Nada disso. Café em caneca grande sem pires.
- Sim senhor.
O café chega, com o pires. Não falo nada. Bebo logo, peço a conta e pago.
Comento que no próximo sábado eu escolherei o lugar. Deve ser algo parecido com a varanda de um sítio. Chão de lajotas. Cadeiras e mesas de metal, um prato fundo. Comida para se servir à vontade. Ninguém analisando enquanto você destrincha um frango com a mão ou enquanto come batata frita com catchup. Cafezinho na saída direto da garrafa térmica.
Minha namorada continua rindo e não comenda nada.
Depois daquela experiência olho para ela e chego a única conclusão possível. Ela deve realmente gostar de mim.
By Marcelo Passerini
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Um dia desses
“Precisamos marcar algo um dia desses”.
“Vamos marcar um almoço ou quem sabe um café?”
Quantas vezes você ouve e usa essa frase? E quantas vezes realmente esse almoço ou aquele café aconteceu? Provavelmente poucas. Essa é a melhor forma de encerrar uma conversa com alguém que realmente você não tem a menor vontade de reencontrar.
Quantas vezes não encontramos casualmente alguém que temos que obrigatoriamente parar e conversar. Perguntar da família, do trabalho, o que tem feito de bom. Neste caso a melhor forma de encerrar é olhar rapidamente para o relógio, olhar para o interlocutor e dizer que está atrasado mas irá ligar para marcar um almoço um dia desses. Nunca mais irá vê-lo. A não ser que acidentalmente o encontre de novo. A única desculpa neste caso é dizer que está atolado de trabalho almoçando na mesa do escritório mas irá ligar um dia desses para marcar um café.
Ótimo. Tudo resolvido. Mas reze para não encontrá-lo de novo pois aí terá que usar a desculpa suprema, aquele ás na manga que só tiramos em último caso. Mate alguém da família. Não pode ser alguém próximo pois ele poderá checar, mas uma tia distante, que morava fora do estado onde você teve que ir e ainda foi responsável por todo o tramite do velório. Depois dessa mude você de estado. É a única forma de evitar o quarto encontro e salvar sua reputação.
No caso de encontros em ambientes sociais como festas, aniversários, inaugurações de alguma bobagem onde a etiqueta manda você comparecer desenvolvi uma técnica de despedida infalível. A uma distância de aproximadamente três metros do grupo de pessoas dê um sorriso tímido de lábios cerrados, descreva um semicírculo ascendente com seu braço direito mantendo a palma da mão aberta direcionada para o grupo e diga um sonoro: “Tchau, nos vemos na próxima.” Perfeito, foi educado, despediu-se de todos e não deu nenhuma abertura para convites ou perguntas indesejáveis. O máximo que podem te acusar é de ser tímido.
Rudezas à parte, somos obrigados a criar atalhos para a etiqueta existente hoje. Imagina se formos totalmente sinceros? Que não estamos nem um pouco afim de convidar ninguém para almoçar, ou para tomar um café? Que apenas queríamos seguir adiante sem ter que trocar amenidades e no máximo um aceno de cabeça para informar que reconhecemos o próximo. Seriamos execrados da sociedade e taxados de estúpidos.
Comentei sobre este assunto com um amigo e ele achou muito grosseiro da minha parte. Respondi que poderíamos discutir isso mais profundamente, quem sabe um dia desses, tomando um café.........
By Marcelo Passerini
marcelo@passerini.com.br
“Vamos marcar um almoço ou quem sabe um café?”
Quantas vezes você ouve e usa essa frase? E quantas vezes realmente esse almoço ou aquele café aconteceu? Provavelmente poucas. Essa é a melhor forma de encerrar uma conversa com alguém que realmente você não tem a menor vontade de reencontrar.
Quantas vezes não encontramos casualmente alguém que temos que obrigatoriamente parar e conversar. Perguntar da família, do trabalho, o que tem feito de bom. Neste caso a melhor forma de encerrar é olhar rapidamente para o relógio, olhar para o interlocutor e dizer que está atrasado mas irá ligar para marcar um almoço um dia desses. Nunca mais irá vê-lo. A não ser que acidentalmente o encontre de novo. A única desculpa neste caso é dizer que está atolado de trabalho almoçando na mesa do escritório mas irá ligar um dia desses para marcar um café.
Ótimo. Tudo resolvido. Mas reze para não encontrá-lo de novo pois aí terá que usar a desculpa suprema, aquele ás na manga que só tiramos em último caso. Mate alguém da família. Não pode ser alguém próximo pois ele poderá checar, mas uma tia distante, que morava fora do estado onde você teve que ir e ainda foi responsável por todo o tramite do velório. Depois dessa mude você de estado. É a única forma de evitar o quarto encontro e salvar sua reputação.
No caso de encontros em ambientes sociais como festas, aniversários, inaugurações de alguma bobagem onde a etiqueta manda você comparecer desenvolvi uma técnica de despedida infalível. A uma distância de aproximadamente três metros do grupo de pessoas dê um sorriso tímido de lábios cerrados, descreva um semicírculo ascendente com seu braço direito mantendo a palma da mão aberta direcionada para o grupo e diga um sonoro: “Tchau, nos vemos na próxima.” Perfeito, foi educado, despediu-se de todos e não deu nenhuma abertura para convites ou perguntas indesejáveis. O máximo que podem te acusar é de ser tímido.
Rudezas à parte, somos obrigados a criar atalhos para a etiqueta existente hoje. Imagina se formos totalmente sinceros? Que não estamos nem um pouco afim de convidar ninguém para almoçar, ou para tomar um café? Que apenas queríamos seguir adiante sem ter que trocar amenidades e no máximo um aceno de cabeça para informar que reconhecemos o próximo. Seriamos execrados da sociedade e taxados de estúpidos.
Comentei sobre este assunto com um amigo e ele achou muito grosseiro da minha parte. Respondi que poderíamos discutir isso mais profundamente, quem sabe um dia desses, tomando um café.........
By Marcelo Passerini
marcelo@passerini.com.br
terça-feira, 14 de abril de 2009
Crise!!!
Crise, é a palavra que mais se escuta ultimamente, estamos em crise, o Brasil está em crise, o mundo está em crise, o universo.......
Não escuto mais reclamações de sogras, chefes chatos, filas em banco, transito caótico. Crise é a palavra da moda.
Como economista não nego que o mundo passa por uma retração de consumo, ajustes em mercados especulatórios, bolsas de valores em quedas vertiginosas buscando uma forma de regular ações inflacionadas. Mas um dos fatores mais graves em uma crise global é a histeria popular fortemente alimentada pela ação da mídia.
O consumidor, em crise, não gasta, esta com medo da crise.
O empresário, em crise, não investe, morre de medo da crise.
O governo, em crise, abaixa alíquotas para incentivar o consumo, arrecada menos e, com medo da crise, não investe.
O poupador, em crise, vende suas ações e coloca tudo na poupança. Conseqüentemente as ações caem, empresas com ações na bolsa sofrem queda, culpam a crise e, para ajustar as finanças, demitem.
O demitido esta em crise, não gasta, precisa recuperar o emprego o mais rápido possível, faz qualquer negócio a qualquer preço: “é a crise”, argumenta.
A dona de casa, em absoluta crise, reutiliza o óleo de fritura vinte vezes até virar graxa.
E por aí vai.......
Claro, a economia não funciona desta forma simplista, mas torna-se lugar comum reclamar e culpar qualquer situação pela crise. Ações são tomadas sem medir conseqüências sempre respaldadas pelo mesmo motivo.
Não podemos esquecer que historicamente a economia global funciona em ciclos, crash em 1929, petróleo no fim da década de 70, mas sempre após um período destes vivenciamos uma aceleração econômica junto com surgimento de novas idéias e projetos.
Encontrei um amigo meu na fila do banco, parecia cansado, espirrava a todo o momento, perguntei o que havia, me respondeu com pesar: Crise meu caro, estamos em crise.... e eu achando que era um resfriado!!!
Eu não estou em crise, foi uma decisão que tomei há meses atrás, oportunidades aparecem a todo o momento, trabalho não falta. Criatividade e inovação. Excelente binômio para os próximos tempos.
Cito Leonardo Boff "A crise representa purificação e oportunidade de crescimento"
Cito também Jô Soares “Se existe tanta crise é porque deve ser um bom negócio!!!”
Não escuto mais reclamações de sogras, chefes chatos, filas em banco, transito caótico. Crise é a palavra da moda.
Como economista não nego que o mundo passa por uma retração de consumo, ajustes em mercados especulatórios, bolsas de valores em quedas vertiginosas buscando uma forma de regular ações inflacionadas. Mas um dos fatores mais graves em uma crise global é a histeria popular fortemente alimentada pela ação da mídia.
O consumidor, em crise, não gasta, esta com medo da crise.
O empresário, em crise, não investe, morre de medo da crise.
O governo, em crise, abaixa alíquotas para incentivar o consumo, arrecada menos e, com medo da crise, não investe.
O poupador, em crise, vende suas ações e coloca tudo na poupança. Conseqüentemente as ações caem, empresas com ações na bolsa sofrem queda, culpam a crise e, para ajustar as finanças, demitem.
O demitido esta em crise, não gasta, precisa recuperar o emprego o mais rápido possível, faz qualquer negócio a qualquer preço: “é a crise”, argumenta.
A dona de casa, em absoluta crise, reutiliza o óleo de fritura vinte vezes até virar graxa.
E por aí vai.......
Claro, a economia não funciona desta forma simplista, mas torna-se lugar comum reclamar e culpar qualquer situação pela crise. Ações são tomadas sem medir conseqüências sempre respaldadas pelo mesmo motivo.
Não podemos esquecer que historicamente a economia global funciona em ciclos, crash em 1929, petróleo no fim da década de 70, mas sempre após um período destes vivenciamos uma aceleração econômica junto com surgimento de novas idéias e projetos.
Encontrei um amigo meu na fila do banco, parecia cansado, espirrava a todo o momento, perguntei o que havia, me respondeu com pesar: Crise meu caro, estamos em crise.... e eu achando que era um resfriado!!!
Eu não estou em crise, foi uma decisão que tomei há meses atrás, oportunidades aparecem a todo o momento, trabalho não falta. Criatividade e inovação. Excelente binômio para os próximos tempos.
Cito Leonardo Boff "A crise representa purificação e oportunidade de crescimento"
Cito também Jô Soares “Se existe tanta crise é porque deve ser um bom negócio!!!”
sexta-feira, 10 de abril de 2009
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Muy amigo
O melhor amigo do homem não é o cachorro como prega a nossa filosofia ocidental. O melhor amigo e maior confidente é o controle remoto. Claro, junto com a televisão.
Com ele é possível comandar o mundo. Pular de tragédias a sucessos com um mínimo de movimento muscular. Com o advento das televisões a cabo então se tornou muito melhor. Mudar de país na velocidade do pensamento virou uma realidade.
Naquele pequeno momento de tempo numa noite qualquer um homem se torna um deus. Com a luz apagada e a caixa mágica ligada a viagem começa. Amores impossíveis e heroísmos incríveis fazem parte da jornada. O melhor de tudo é que é possível parar tudo com um simples toque de um botão, como se nada tivesse acontecido e sabendo que na noite seguinte ela estará lá para uma nova e desconhecida viagem.
Grande engano, você foi fisgado e nem sabe. O poder daquela pequena caixa cresceu e dominou o espaço. A influência que ela possue faz com que não possamos mais viver sem ela. A pequena dose diária de alucinação agora é uma necessidade e o controle remoto um vício.
Para o homem solitário o malabarismo em mudar de canal e aumentar o som ao mesmo tempo sem ao menos olhar para o controle se torna um esporte. Assistir quatro programas ao mesmo tempo e ainda assim esquentar a comida no microondas é mera rotina.
Como um animal domesticado e enjaulado a televisão parece uma ótima companhia. Não reclama e está sempre disponível. Disposta a aceitar de nós, meros seres prostrados em sua frente, todos os tipos de emoções. Descontamos em vão nossa raiva no controle remoto até que o coitado pifa. Nada mais justo, compramos um novo no dia seguinte mas, jamais esmurramos a televisão, imagina se ela se irrita e para de funcionar no meio da noite?
Provavelmente neste estágio a televisão estará em uma posição de destaque na casa, aliás, a casa foi montada em torno dela. Para que uma mesa de jantar? Temos a TV, o sofá e o famoso banquinho curinga que serve como apoio para a pizza requentada. E os convidados comeriam aonde? Como assim? Para que vieram? Será que eles não têm TV em casa?
Com o tempo chega um novo ser para alimentar a vida desse lobo solitário e deus de seu reino fictício. A esposa. Com um poder avassalador ela domina todos os cantos possíveis com seu pequeno martelo e inumeráveis preguinhos pendurando um monte de fotos de viagem e familiares tentando em vão criar um ambiente acolhedor. Como um animal ferido ele aceita e se refugia em seu mundo solitário televisivo procurando seus amigos imaginários e resmungando quando aquilo irá acabar.
Como um trem bala em alta velocidade e sem maquinista um dia chega. Vamos colocar a televisão no quarto dos fundos para caber a mesa de jantar? Como assim? Mesa? Não!
É a primeira grande briga. E a batalha é perdida. Mas não a guerra. Encurvado pelos anos em frente à telinha carrega a própria para o quarto dos fundos junto com o banquinho. Lá monta seu refúgio e imagina que um frigobar e um forninho elétrico ficariam ótimos junto com a TV. É o começo do fim. Daí para frente é só ladeira abaixo.
Um dia ele morre, em um quarto qualquer, mas ela estará lá, pendurada na parede branca no lugar mais alto possível. Onde é seu lugar de direito já que esteve lá em todos os momentos. Ele pifou antes dela e foi enterrado com tudo o que tinha direito. O controle remoto ficou no quarto onde o enfermeiro faz a limpeza. Não se contendo liga a televisão. Ela abre um sorriso cínico.
By Marcelo Passerini.
Com ele é possível comandar o mundo. Pular de tragédias a sucessos com um mínimo de movimento muscular. Com o advento das televisões a cabo então se tornou muito melhor. Mudar de país na velocidade do pensamento virou uma realidade.
Naquele pequeno momento de tempo numa noite qualquer um homem se torna um deus. Com a luz apagada e a caixa mágica ligada a viagem começa. Amores impossíveis e heroísmos incríveis fazem parte da jornada. O melhor de tudo é que é possível parar tudo com um simples toque de um botão, como se nada tivesse acontecido e sabendo que na noite seguinte ela estará lá para uma nova e desconhecida viagem.
Grande engano, você foi fisgado e nem sabe. O poder daquela pequena caixa cresceu e dominou o espaço. A influência que ela possue faz com que não possamos mais viver sem ela. A pequena dose diária de alucinação agora é uma necessidade e o controle remoto um vício.
Para o homem solitário o malabarismo em mudar de canal e aumentar o som ao mesmo tempo sem ao menos olhar para o controle se torna um esporte. Assistir quatro programas ao mesmo tempo e ainda assim esquentar a comida no microondas é mera rotina.
Como um animal domesticado e enjaulado a televisão parece uma ótima companhia. Não reclama e está sempre disponível. Disposta a aceitar de nós, meros seres prostrados em sua frente, todos os tipos de emoções. Descontamos em vão nossa raiva no controle remoto até que o coitado pifa. Nada mais justo, compramos um novo no dia seguinte mas, jamais esmurramos a televisão, imagina se ela se irrita e para de funcionar no meio da noite?
Provavelmente neste estágio a televisão estará em uma posição de destaque na casa, aliás, a casa foi montada em torno dela. Para que uma mesa de jantar? Temos a TV, o sofá e o famoso banquinho curinga que serve como apoio para a pizza requentada. E os convidados comeriam aonde? Como assim? Para que vieram? Será que eles não têm TV em casa?
Com o tempo chega um novo ser para alimentar a vida desse lobo solitário e deus de seu reino fictício. A esposa. Com um poder avassalador ela domina todos os cantos possíveis com seu pequeno martelo e inumeráveis preguinhos pendurando um monte de fotos de viagem e familiares tentando em vão criar um ambiente acolhedor. Como um animal ferido ele aceita e se refugia em seu mundo solitário televisivo procurando seus amigos imaginários e resmungando quando aquilo irá acabar.
Como um trem bala em alta velocidade e sem maquinista um dia chega. Vamos colocar a televisão no quarto dos fundos para caber a mesa de jantar? Como assim? Mesa? Não!
É a primeira grande briga. E a batalha é perdida. Mas não a guerra. Encurvado pelos anos em frente à telinha carrega a própria para o quarto dos fundos junto com o banquinho. Lá monta seu refúgio e imagina que um frigobar e um forninho elétrico ficariam ótimos junto com a TV. É o começo do fim. Daí para frente é só ladeira abaixo.
Um dia ele morre, em um quarto qualquer, mas ela estará lá, pendurada na parede branca no lugar mais alto possível. Onde é seu lugar de direito já que esteve lá em todos os momentos. Ele pifou antes dela e foi enterrado com tudo o que tinha direito. O controle remoto ficou no quarto onde o enfermeiro faz a limpeza. Não se contendo liga a televisão. Ela abre um sorriso cínico.
By Marcelo Passerini.
Barbeiro
Fui cortar o cabelo ontem. Finalmente achei um lugar onde me sinto confortável. Foram alguns anos de busca.
Cabelo. Há pessoas que se preocupam muito com essa parte do corpo. Alisam, cortam, tratam, pesquisam a última moda e discutem o resultado. Eu me enquadro em um segundo grupo, daqueles que querem a coisa resolvida.
Tenho saudade do tiozinho que tinha uma barbearia perto de casa. Era montada em uma garagem de automóvel sem placa na porta. Com uma cadeira só antiga forrada de plástico laranja e uma televisão com o sinal ruim pendurada no teto. Sábado de manha, ia a pé de chinelo e bermuda. Não sabia seu nome e ele tampouco o meu. Chamava-me de alemão. Sentava na cadeira que rangia por anos de falta de óleo pegava uma revista. Normalmente era uma Quatro-Rodas ou uma Manchete velha com as últimas fotos do carnaval.
Discutindo o ultimo clássico futebolístico e me embalando em um avental antigo de cor indefinida ele me perguntava secamente: Curto? Eu respondia: Curto!
Com a televisão chiando em menos de quinze minutos ele terminava o corte. Era o tempo suficiente de eu ler uma reportagem inteira sobre o último Rallie dos Sertões.
Aquela rotina tranqüila acontecia uma vez por mês até aquele fatídico sábado.
Era cedo ainda, passei na padaria antes para tomar um café e fui cortar o cabelo. Cheguei e vi a porta abaixada. Um vizinho me informou que ele se aposentara indo morar no interior.
Meio perdido voltei para casa, o problema continuava. Precisava cortar o cabelo. Coloquei uma roupa um pouco mais decente, peguei o carro e saí procurando um barbeiro.
Na placa dizia Soho. Entrei e uma moça cheirosa disse bom dia e me perguntou o que queria. Com uma ponta de mau humor aparecendo tive vontade de dar uma cabeçada à lá Zidane naquela magrela. Como assim? Vim cortar o cabelo. Deu-me uma chave de armário e um mini avental, agradeci mas disse que só queria mesmo era um corte simples. Ela me olhou como se eu fosse de um outro planeta e explicou pacientemente que era para guardar meus objetos pessoais no armário e vestir o avental e aguardar sentado em um sofazinho que já iriam me atender. Dez minutos depois e finalmente consegui entender como colocar o maldito avental, bufando sentei e aguardei escutando uma música indefinida que me faziam sentir que estava em uma sala de espera de um consultório dentário.
Um rapaz magro com o cabelo espetado me conduziu a uma cadeira com um espelho na frente todo iluminado, perguntou se eu queria um chá, disse que só queria algo para ler. Voltou com um monte de revistas sobre moda, dei um sorriso amarelo e perguntei sobre a última Quatro Rodas, ele riu num tom mais amarelo ainda e foi embora.
Enquanto folheava e tentava entender aquela revista um japonês saído do nada começou a massagear meu pescoço. Quase dei um pulo da cadeira. Ele se assustou mais ainda recuando alguns passos. Respirei fundo e falei com a cara injetada de raiva que estava ali para um corte simples, só isso. Afastou-se apressado.
Finalmente um rapaz apareceu com seu séqüito de tesouras. Explico que estou com pressa e preciso de um corte rápido e curto, nada mais. Não quero massagens, chás, revistas ou comentários sobre o último capítulo da novela, só um corte.
Meia hora depois, cabelo cortado de um jeito meio espetado parecendo um porco espinho pago e vou embora.
Voltando para casa passo melancolicamente na frente da barbearia do tiozinho. A porta continua abaixada. Nenhum movimento.
Começo a me sentir como um dinossauro em extinção.
By Marcelo Passerini
Cabelo. Há pessoas que se preocupam muito com essa parte do corpo. Alisam, cortam, tratam, pesquisam a última moda e discutem o resultado. Eu me enquadro em um segundo grupo, daqueles que querem a coisa resolvida.
Tenho saudade do tiozinho que tinha uma barbearia perto de casa. Era montada em uma garagem de automóvel sem placa na porta. Com uma cadeira só antiga forrada de plástico laranja e uma televisão com o sinal ruim pendurada no teto. Sábado de manha, ia a pé de chinelo e bermuda. Não sabia seu nome e ele tampouco o meu. Chamava-me de alemão. Sentava na cadeira que rangia por anos de falta de óleo pegava uma revista. Normalmente era uma Quatro-Rodas ou uma Manchete velha com as últimas fotos do carnaval.
Discutindo o ultimo clássico futebolístico e me embalando em um avental antigo de cor indefinida ele me perguntava secamente: Curto? Eu respondia: Curto!
Com a televisão chiando em menos de quinze minutos ele terminava o corte. Era o tempo suficiente de eu ler uma reportagem inteira sobre o último Rallie dos Sertões.
Aquela rotina tranqüila acontecia uma vez por mês até aquele fatídico sábado.
Era cedo ainda, passei na padaria antes para tomar um café e fui cortar o cabelo. Cheguei e vi a porta abaixada. Um vizinho me informou que ele se aposentara indo morar no interior.
Meio perdido voltei para casa, o problema continuava. Precisava cortar o cabelo. Coloquei uma roupa um pouco mais decente, peguei o carro e saí procurando um barbeiro.
Na placa dizia Soho. Entrei e uma moça cheirosa disse bom dia e me perguntou o que queria. Com uma ponta de mau humor aparecendo tive vontade de dar uma cabeçada à lá Zidane naquela magrela. Como assim? Vim cortar o cabelo. Deu-me uma chave de armário e um mini avental, agradeci mas disse que só queria mesmo era um corte simples. Ela me olhou como se eu fosse de um outro planeta e explicou pacientemente que era para guardar meus objetos pessoais no armário e vestir o avental e aguardar sentado em um sofazinho que já iriam me atender. Dez minutos depois e finalmente consegui entender como colocar o maldito avental, bufando sentei e aguardei escutando uma música indefinida que me faziam sentir que estava em uma sala de espera de um consultório dentário.
Um rapaz magro com o cabelo espetado me conduziu a uma cadeira com um espelho na frente todo iluminado, perguntou se eu queria um chá, disse que só queria algo para ler. Voltou com um monte de revistas sobre moda, dei um sorriso amarelo e perguntei sobre a última Quatro Rodas, ele riu num tom mais amarelo ainda e foi embora.
Enquanto folheava e tentava entender aquela revista um japonês saído do nada começou a massagear meu pescoço. Quase dei um pulo da cadeira. Ele se assustou mais ainda recuando alguns passos. Respirei fundo e falei com a cara injetada de raiva que estava ali para um corte simples, só isso. Afastou-se apressado.
Finalmente um rapaz apareceu com seu séqüito de tesouras. Explico que estou com pressa e preciso de um corte rápido e curto, nada mais. Não quero massagens, chás, revistas ou comentários sobre o último capítulo da novela, só um corte.
Meia hora depois, cabelo cortado de um jeito meio espetado parecendo um porco espinho pago e vou embora.
Voltando para casa passo melancolicamente na frente da barbearia do tiozinho. A porta continua abaixada. Nenhum movimento.
Começo a me sentir como um dinossauro em extinção.
By Marcelo Passerini
Mau humor
Hoje acordei de mau humor.
Depois do primeiro café decidi não ficar aborrecido por ter acordado assim. Conclui que tenho o direito de passar um dia emburrado e largado ao ócio.
Para começar escolhi a pior camiseta regata que tenho, aquela bermuda velha que fica jogada no fundo da gaveta e um par de chinelos havaiana. Se for para passar o dia assim que o faça a caráter. Com meu segundo café, barba por fazer e um cigarro pendurado na boca vou para o terraço da casa. Sol a meia altura, céu limpo e sem nuvens não combinam com meu visual. Volto para dentro. Não queria que aquele dia bonito acabasse com meu planejamento de bicho preguiça. Ligo a televisão e para a minha sorte está passando a reprise de um jogo de golfe. Não entendo quase nada do esporte mas aquele programa chato vem bem a calhar.
Largado no sofá segurando o controle remoto em uma mão e meio pacote de salgadinhos na outra começo a pensar na primeira decisão executiva do dia. Posso fazer o que quiser, estou em um sábado de manha em um sítio no sul de Minas Gerais a uma distancia de, no mínimo, duzentos quilômetros de um ser humano conhecido. Ginástica nem pensar, é muito “saúde” para meu gosto e ainda corro o risco de me animar e começar a pensar em coisas mais ousadas como arrumar a cama, lavar a louça.
Decido pelo almoço. Omelete com bacon e um balde de batatas fritas coberto com muito catchup. Para beber uma coca-cola direto da garrafa. Claro, tudo isso servido na frente da televisão e deitado no sofá. Ótimo, primeira decisão tomada.
Ainda pensando em o que fazer até a hora do almoço toca a campainha na porta da varanda. Quem poderia ser em um lugar isolado desses em pleno sábado? Resmungando e arrastando meus chinelos vou atender a porta. O homem provavelmente se assustou com minha aparência, cabelos em pé, barba por fazer e uma bufada digna de um ogro resmungo um bom dia quase inaudível. Estava ofertando um serviço de entrega de alimentos na região. Parece brincadeira! Logo no meu dia de pseudo-eremita semifleumático. Dispenso o rapaz e volto para minha maratona televisiva com o controle remoto.
Zapeando entre um canal e outro começo a refletir sobre o ócio. Como preencher um dia com o nada. Parece fácil. Pego um jornal antigo e leio uma frase: "O trabalho não é sempre necessário - existe uma tal coisa que é o ócio sagrado, o cultivo daquilo que é hoje medrosamente menosprezado." - George MacDonald. Não conheço este indivíduo mas me parece uma frase muito rebuscada para justificar uma vagabundagem. Ainda são onze da manha e já estou cansado de não ter o que fazer.
Terminado o almoço olho para a louça acumulando na pia. Resisto à tentação de lavá-la. Decidi por um dia de morosidade e assim será.
O tempo passa lentamente e eu me arrastando pelo triangulo televisão, computador e cozinha.
Janto uma pilha de sanduíches de queijo e atum. Rápido preparo exigindo o mínimo de inteligência e trabalho.
Fim do dia, estava cansado. Passar o dia inteiro ocioso e de mau humor não é uma tarefa fácil. Amanha é domingo. Decido que irei acordar cedo, arrumarei a casa e farei ginástica. Tudo isso antes do café da manha.
Só assim poderei descansar.
By Marcelo Passerini
Depois do primeiro café decidi não ficar aborrecido por ter acordado assim. Conclui que tenho o direito de passar um dia emburrado e largado ao ócio.
Para começar escolhi a pior camiseta regata que tenho, aquela bermuda velha que fica jogada no fundo da gaveta e um par de chinelos havaiana. Se for para passar o dia assim que o faça a caráter. Com meu segundo café, barba por fazer e um cigarro pendurado na boca vou para o terraço da casa. Sol a meia altura, céu limpo e sem nuvens não combinam com meu visual. Volto para dentro. Não queria que aquele dia bonito acabasse com meu planejamento de bicho preguiça. Ligo a televisão e para a minha sorte está passando a reprise de um jogo de golfe. Não entendo quase nada do esporte mas aquele programa chato vem bem a calhar.
Largado no sofá segurando o controle remoto em uma mão e meio pacote de salgadinhos na outra começo a pensar na primeira decisão executiva do dia. Posso fazer o que quiser, estou em um sábado de manha em um sítio no sul de Minas Gerais a uma distancia de, no mínimo, duzentos quilômetros de um ser humano conhecido. Ginástica nem pensar, é muito “saúde” para meu gosto e ainda corro o risco de me animar e começar a pensar em coisas mais ousadas como arrumar a cama, lavar a louça.
Decido pelo almoço. Omelete com bacon e um balde de batatas fritas coberto com muito catchup. Para beber uma coca-cola direto da garrafa. Claro, tudo isso servido na frente da televisão e deitado no sofá. Ótimo, primeira decisão tomada.
Ainda pensando em o que fazer até a hora do almoço toca a campainha na porta da varanda. Quem poderia ser em um lugar isolado desses em pleno sábado? Resmungando e arrastando meus chinelos vou atender a porta. O homem provavelmente se assustou com minha aparência, cabelos em pé, barba por fazer e uma bufada digna de um ogro resmungo um bom dia quase inaudível. Estava ofertando um serviço de entrega de alimentos na região. Parece brincadeira! Logo no meu dia de pseudo-eremita semifleumático. Dispenso o rapaz e volto para minha maratona televisiva com o controle remoto.
Zapeando entre um canal e outro começo a refletir sobre o ócio. Como preencher um dia com o nada. Parece fácil. Pego um jornal antigo e leio uma frase: "O trabalho não é sempre necessário - existe uma tal coisa que é o ócio sagrado, o cultivo daquilo que é hoje medrosamente menosprezado." - George MacDonald. Não conheço este indivíduo mas me parece uma frase muito rebuscada para justificar uma vagabundagem. Ainda são onze da manha e já estou cansado de não ter o que fazer.
Terminado o almoço olho para a louça acumulando na pia. Resisto à tentação de lavá-la. Decidi por um dia de morosidade e assim será.
O tempo passa lentamente e eu me arrastando pelo triangulo televisão, computador e cozinha.
Janto uma pilha de sanduíches de queijo e atum. Rápido preparo exigindo o mínimo de inteligência e trabalho.
Fim do dia, estava cansado. Passar o dia inteiro ocioso e de mau humor não é uma tarefa fácil. Amanha é domingo. Decido que irei acordar cedo, arrumarei a casa e farei ginástica. Tudo isso antes do café da manha.
Só assim poderei descansar.
By Marcelo Passerini
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